Carreira alternativa
Outro dia vi na tv uma propaganda de vagas para árbitros de futebol, acho que são 25.000 novos juízes a serem contratados.
Por uns dois minutos fiquei imaginando que eu podia começar numa terceira divisão francesa, ir subindo, chegar até o nível nacional, com sorte apitar alguns jogos europeus, chegar numa copa do mundo, talvez. Ser ev2, nesse caso, é uma vantagem, porque entre, digamos, Lyon e Lille eu não tenho absolutamente nenhuma preferência.
Um pouco depois de conquistar o mundo em sonho (já imaginaram, cena antológica em 2022, eu n a final da copa, Tunísia e Butão, aquele simpático jovem juiz já meio careca apitando o encerramento, sendo soterrado por tunisianos em festa, a imagem percorrendo o mundo...), lembrei que eu sou míope e que não é muito comum ver um juiz de óculos, possivelmente pela falta de confiança que ele inspiraria.
Também é um fato que o juiz corre quase tanto quanto os jogadores, e que a minha atual forma rechonchuda não contribui muito para grandes performances fisicas.
E se nada disso bastasse (sempre existe a opção de cirurgia para miopia e um belo regime forçado), lembrei que ser juiz não é uma coisa trivial, além de incrivelmente arriscada. Claro que o prazer de ver os jogos ao vivo e o poder de interferir na história são tentadores, mas até chegar nesse ponto eu teria que fugir de muita briga nos recônditos franceses.
Minha capacidade de decidir sob pressão e meu olho clínico não são de alto nível, eu hesitaria na hora de um pênalti, ficaria intimidado com um zagueiro tcheco de 1.97m e arruinaria a carreira em duas semanas. Receberia garrafadas e copos d'água quando quebrasse um galho de bandeirinha. Agüentaria provocações de técnicos mal-encarados como quarto arbitro.
Seria entrevistado por repórteres idiotas dizendo que errei em todos os lances capitais e teria no dia seguinte a repetição à exaustão, em todos os canais, dos mesmos.
Não, isso nem pode ser qualificado de sonho. Afinal, pior que ser o cara que se estica e se mata para evitar a alegria do povo é ser o infeliz com o apito na boca ou com a bandeira erguida anulando a celebração de meio mundo.
Um comentário:
"Eu sou você se tivesse feito aquele teste no Botafogo". No mais.... amo vc!!!! :-)
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