Do tempo que a França marcava gols em copa do mundo...
O texto prometido ha' um tempo atras. Valeu, Ju, irmã/escrava so' tem uma, hehe.
A favor e contra
Faz parte do folclore dos jornalistas, na sua eterna luta com os prazos de fechamento, a matéria feita antes, que vale em qualquer eventualidade. Considerações sobre o nada, à prova de qualquer desmentido dos fatos. Outro recurso é fazer duas matérias, uma prevendo uma coisa e outra prevendo o seu oposto. Este é perigoso, pois há sempre o risco de haver confusão e sair a matérias errada. No caso do futebol, a matéria dupla - por que ganhamos e por que perdemos - requer uma dose maior de sangue-frio, para não dizer cinismo, jornalístico. É conhecida a história daquele editor que se lembrou em cima da hora que no dia seguinte era Páscoa e o jornal precisava se referir à data. Entrou na redação e pediu a um repórter:
- Escreve aí cinco linhas sobre o martírio de Jesus Cristo.
E o repórter:
- A favor ou contra?
Escrever a favor ou contra Zagalo e a seleção de acordo com o resultado da final já seria uma injustiça, escrever a favor e contra antes e publicar a tese justificada pelo resultado seria uma calhordice. Afinal, deve-se ter convicções firmes, independentes da sua conveniência, inclusive sobre o martírio de Jeses Cristo. Nem a vitória redimiria completamente Zagalo das suas teimosias nem a derrota o condena completamente. Zagalo caiu abraçado às suas convicções. Não deixa de haver uma certa grandeza nisso.
Poderia, isto sim, ter-se previsto dois scénarios, como gostam de dizer os franceses, para a final, cada um com um personagem diferente, Ronaldo e Zidane. Por que ganhamos? Porque Ronaldo finalmente jogou tudo o que sabe - ele que jogando metade do que pode já era um dos jogadores mais importantes do Brasil - e foi o nome do jogo da Copa. Por que perdemos? Porque Zidane, e não Ronaldo, foi o nome do jogo e finalmente o herói do dia e do título. A grande noite de Ronaldo e suas consequências eram mais fáceis de prever. Do lado da França o herói podia ser qualquer um. Mas como o scénario da Copa acabou sendo perfeito para os franceses, nada mais adequado e dramaticamente certo do que o seu jogador favorito ser o jogador decisivo.
(Luis Fernando Verissimo)
Um comentário:
De nada!
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