Cena do quotidiano
Jovem estudante brasileiro espera o tempo passar em seu quarto pois só é possível lavar roupa nesse inferno de escola enquanto 99,5% das pessoas estão dormindo. De repente, passos no corredor. Muitos passos. Barulhos ininteligíveis, quase assustadores, oriundos de muitas bocas.
Este autor precipita-se em direção à porta e consegue fechá-la antes que os bárbaros tentassem tomar o controle de seu precioso quarto. De volta ao livro para passar o tempo...
Depois de alguns instantes de silêncio, julgo suficientemente seguro sair do quarto. Qual não é meu espanto ao ver um mar de sapatos se espalhando a partir da porta do chinês da minha frente. Um, dois, três, oito pares!
Portas e janelas fechadas. Aparentemente nenhum barulho lá dentro. Não tenho nada com isso, sigo minha peregrinação semanal a Meca, digo, à maquina de lavar e lembro de um aforismo que eu cunhei durante uma fria manhã do meu estágio operário:
"No fundo, é sempre uma família chinesa e suas grandes malas de turistas."
Fico pensando o que diabos eu quis dizer com essa frase e porque a salvei num arquivo rascunho; a título de informação, há uma observação entre parênteses, em francês, que diz: sempre se encontra uma explicação.
O fato é que, se eu tive de fato uma boa idéia, ela ficou perdida em algum ponto do limbo que nos separa do passado. Ah, o tempo...O tempo passa e não fica, nada deixa e nunca regressa...O tempo, tal como o sono, usa armas químicas.
Voltando para meu prédio, encontro o iraniano que largou o handball por problemas respiratórios escondendo um cigarro antes de me dizer boa noite.
É isso, no fundo é sempre um pseudo-muçulmano com problemas pulmonares escondendo seu cigarro.
Um comentário:
Um dos melhores textos dos últimos tempos nesse blog. No fundo, é sempre o metrô lotado e alguém carregando uma bandeja de esfihas. Beijos.
Postar um comentário