"Bem amigos da Rede Globo, falamos diretamente de Johanesburgo onde dentro de instantes ocorrerá a decisão da 17ª Copa do Mundo de Tunelamento.
As regras todos nós, fãs desse emocionante esporte, conhecemos bem. Em todo caso, vamos explicá-las novamente para ajudar a popularizar essa incrível competição: cada atleta deve lançar uma bolinha de ping-pong em direção àquela grande e finíssima chapa de ouro. Eles têm 3 tentativas para fazer com que ela atravessa o anteparo. Sim, atravesse "POR DENTRO" da placa, utilizando apenas aspectos obscuros da Mecânica Quântica.
O recorde mundial pertence ainda ao saudoso Ivan Paulotinovic que há 12 anos conseguiu furar a placa. Logo após os comerciais a competição deve ter início, quem sabe esse ano não vemos um participante finalmente conseguir a pontuação máxima?"
Não existe, até onde eu sei, nenhum exemplo de disputa estúpida como a desse exemplo delirante. Somos, afinal, uma espécie racional, não perdemos nosso tempo desejando que eventos altamente improváveis aconteçam. Sabemos que não podemos condicionar nossa felicidade a eventos fortuitos e de periodicidade infinita...
E talvez exatamente por isso tenhamos perdido a alegria de viver.
quarta-feira, agosto 29, 2007
segunda-feira, agosto 27, 2007
Pré-olímpico de basquete
"O Brasil só depende de "se" para conseguir a vaga para a Olimpíada"
Escrito por Bruno à 11:24 PM 1 comentários
domingo, agosto 26, 2007
Como escrever uma boa manchete para uma notícia completamente irrelevante, capítulo 1:
Atriz colombiana Catalina Sandino Moreno troca drogas por nudez
Escrito por Bruno à 12:28 PM 0 comentários
sábado, agosto 18, 2007
Algumas palavras valem mais que mil imagens
Às vezes me sinto obrigado a discordar da "sabedoria popular". A minha implicância de hoje vai para o ditado a que o meu título faz alusão. Sim, imagens são importantes e marcantes, mas existem casos em que as palavras são tão bem escolhidas que se tornam imbatíveis.
Tome-se como exemplo a chegada do Homem à Lua. Aquelas imagens dos norte-americanos pulando na superfície lunar são interessantes, admito, porém não se comparam ao "small step for a man".
Voltando ainda mais no tempo, pensemos no Absolutismo francês. O que é melhor, aquela foto do Luís XIV com todas suas plumas e seu jeito de bichona ou "L'état, c'est moi"? Mesmo o "Diga ao povo que fico" de nosso imperador é superior a todo o resto das coisas ligadas à ele.
Hoje creio que uma nova citação deve ser incluída nesse panteão, "Prefiro a puta da sua irmã" (Marco Materazzi). Com essa genial pérola, o brucutu italiano venceu o gênio francês, ganhou a Copa, tornou-se herói e, como se nada disso fosse o suficiente, pode humilhar escritores pelo mundo afora: ele cunhou uma frase perfeita.
Escrito por Bruno à 9:46 PM 2 comentários
A eterna reflexão
Recebi hoje um email de um bixo que quer entrar na Polytechnique. O cidadão encontrou este glorioso espaço laranja e dele tirou o meu contato. Isso pode ser bom ou pode ser ruim para a vida dele, mas aí já não está mais na minha alçada.
O fato é que apenas hoje me dei conta de que em breve fará 3 anos das minhas provas de admissão. Ao leitor que não estava informado na época ou que já esqueceu, relembro que tive de escolher qual programa de intercâmbio tentar e arriscar todas as fichas nele. Escolhi, é claro, o da tradicional e poderosa (sic) escola em Paris (sic), com sua matemática interessante (sic), sua diversão constante através do esporte (sic), entre tantas outras quase-verdades.
Fui um dos piores colocados no exame, mas felizmente dentro do limite dos aprovados. A margem foi tão estreita que é impossível ficar conjecturando o que poderia ter sido e não foi. Teria eu arriscado a sorte num intercâmbio com a Itália no ano seguinte, assistido todos os jogos da Juve em Turim pela segunda divisão e me virado com uma bolsa parcial?
Teria explodido alguma indústria química, causando a morte de algumas centenas de operários incluindo este pobre reles e desastrado escriba?
O caminho mais normal talvez fosse simplesmente terminar a Poli no tempo previsto, sendo que o encerramento seria...hoje! (ontem, na verdade, mas uma mentirinha a mais não vai mudar tanta coisa assim). Enfim, ontem eu teria me tornado engenheiro, ainda não oficialmente mas ao menos no sentido prático.
O computador em que eu escreveria esta mensagem não seria este, nem estaria o menu do Blogger em francês. Não haveria um par de lentes de contato à minha frente, meu cartão de banco não existiria, ao menos 40% da minha estante seria diferente. Cazzo, até a camiseta que eu estou usando agora não estaria por aqui.
Às vezes não parece mas nossa vida é sim o resultado de nossas escolhas, nossos erros e acertos. E, claro, de la chance.
Escrito por Bruno à 2:00 AM 1 comentários
quarta-feira, agosto 15, 2007
O grande público
A propaganda de uma companhia telefônica diz que seu serviço "encurta as distâncias" entre as pessoas e para ilustrar isso aparecem os continentes derivando em direção à antiga Pangea.
É preciso dizer que mesmo se só houvesse um continente a distância entre, digamos, Santiago e Novosibirski continuaria monstruosa. O curioso é que o propagandista que concebeu a campanha partiu da velha idéia do Wegener da deriva continental, idéia essa considerada delirante e herética na época mas que hoje em dia se tornou assunto de geografia para crianças.
Esse padrão se repete em muitas outras áreas, algum sábio do século XVIII disse que as leis de Newton estavam no limiar da capacidade humana de compreensão. Tudo isso nos leva a crer que daqui a 40 anos poderemos ver a propaganda da Telefonica em que dois alienigenas ficam tremendamente felizes com a súbita aparição de um buraco de minhoca conectando seus distantes planetas...
Escrito por Bruno à 10:46 PM 1 comentários
segunda-feira, agosto 06, 2007
Terrinas
"Chovia em Paris, e não tínhamos guarda-chuva. Saímos do hotel nos esgueirando (Esgueirar-se: a arte de andar entre pingos de chuva ou sob marquises. Sua principal característica é que nunca dá certo.) Decidimos entrar no primeiro restaurante que aparecesse.
Chamava-se Oeuf à la Poche, numa clara referência ao seu tamanho. Estava vazio. Sentamo-nos, depois de sacudir a água na entrada, com aquele falso ar de habitués que deve nos acompanhar em qualquer lugar absolutamente estranho. Um cachorro veio nos examinar em silêncio e, satisfeito ou desapontado, voltou para o seu lugar perto do balcão. De trás do qual saiu um cabeludo com duas terrinas que colocou sobre a nossa mesa, silencioso como o seu cachorro. Uma terrina continha um patê pela metade. A outra era indecifrável. Dali a pouco, o cabeludo voltou com mais duas terrinas. Depois, mais duas. E mais duas!
Conseguimos identificar champignons, salames, rillettes e pouca coisa mais. Quando trouxe o pão, o cabeludo perguntou se queríamos vinho. Suspirei aliviado. Ele não nos odiava! Pedi um tinto. E como não aparecesse ninguém com um cardápio e eu é que não ia pedir explicações sobre que tipo de restaurante era aquele, afinal, atacamos as terrinas e o pão como quem não espera outra coisa.
Só de baguette foi um quilômetro, e não ficou terrina sobre terrina. Estávamos nos congratulando pela descoberta acidental do restaurante e tentando nos lembrar de quando tínhamos comido tanto e tão bem quando surgiu uma moça, um pouco menos feminina do que o cabeludo, e perguntou que prato quente iríamos querer, depois da entrada. TInham boeuf bourguignon, tinham...Pedimos cada um um prato quente, de pura timidez.
Estou recontando esta história sem qualquer proveito social que a redima por que mesmo? Talvez só para dizer que anos depois procuramos o "Oeuf à laPoche" e não o encontramos mais. Suas terrinas muito generosas ou, quem sabe, a melancolia do cachorro tinham derrotado a proposta. Ou talvez seja uma história inspiradora: não confunda os aperitivos que o destino lhe serve com a vida, cedo ou tarde aparecerá o prato quente. Sei lá.
E a chuva em Paris? Não parou. Choveu todos os dias, até que resolvemos tomar uma providência. Compramos guarda-chuva. Aí ela parou."
(Luis Fernando Verissimo)
Escrito por Bruno à 9:36 PM 1 comentários