quarta-feira, janeiro 30, 2008

MRBCI

Que histórias bizarras acontecem comigo no metrô não é exatamente uma novidade. Mas, mesmo depois de perder o tênis na Sé ou de apanhar de uma velhinha louca no Tatuapé, ainda há espaço para novidades.

Voltava eu para casa carregando em um saco plástico um pequeno lote de iogurte natural. É importante esclarecer que tal produto foi produzido por mim mesmo, com o ligeiro auxílio de uns lactobacilos e streptococos. Ao lacrar um dos copos de iogurte, minha falta de experiência fez com que uma das tampas ficasse ligeiramente torta e portanto ela não fechava tão hermeticamente quanto eu precisava.

Isso não teria provocado maiores conseqüências se o próprio saco plástico não rasgasse. O iogurte começou a vazar ainda no ônibus mas as coisas pareciam sob controle. Já no metrô o drama se acentuou, a sujeira ficou maior e tudo seria muito pior se a distinta senhorita que voltava comigo não tivesse um saquinho pequeno. Como nada na vida é perfeito, ele era realmente pequeno e só acomodava dois potes. Coloquei os dois lacrados no saquinho e deixei o aberto no saco furado. Bastaria jogar a meleca no lixo e seguir por mais trocentas estações até o conforto do meu lar. No entanto...

No entanto parece que São Paulo virou Londres...Não há mais lixeiras no metrô daqui, caro leitor! Essa guerra contra o terrorismo não pára de fazer vítimas inocentes...

Entrei num trem da linha azul e obviamente eu era o passageiro (n+1), sendo n o número de assentos. Com alguma dificuldade consegui um equilíbrio precário, segurei firme os meus três potes e segui derramando umas gotas de iogurte sem medo de ser feliz. Por sorte, uma simpática senhora (essa desconhecida) tirou um saco grande do meio de suas coisas e me deu! Ainda há boas almas por aí. Embrulhei tudo e rumei até a Sé.

Chegando na linha vermelha uma gordinha de tranças (talvez desconhecida, talvez não) ficou me olhando e finalmente me cumprimentou. Balancei a cabeça, disse que sentia muito mas que não sabia se a conhecia. Ela então disse que eu parecia familiar...

"Sim, minha senhora, é óbvio que eu pareço familiar. Faço parte do braço armado do Movimento Revolucionário dos Barbudos que Carregam Iogurte. Você deve estar me confundindo com algum outro membro. Nosso objetivo é espalhar o caos e a discórdia pelas metrópoles brasileiras espalhando leite fermentado nos meios de transporte público. Tá vendo aquela menina carregando uma caixa de esfihas do Habib's? Ela também faz parte do grupo, constitui a tropa de vanguarda que vem analisando a situação há tempos, nos referimos a eles como "os turcos". Nunca achou estranho que SEMPRE houvesse alguém levando esfiha no metrô? Sempre de carne? Sempre do Habib's? Não há mistérios, minha cara, tudo tem uma explicação racional. Agora fique quieta e não faça movimentos bruscos, carrego 3 potes de iogurte e não tenho medo usá-los."

Tudo seguiu bem até a Penha. Desci rapidamente e não encarei a gordinha, era melhor não dar maiores pistas para quando ela fizer meu retrato falado na Polícia.

sexta-feira, janeiro 25, 2008

On n'est jamais aussi bien que chez soi

Uma recente pesquisa com 6000 paulistanos indicou que a cor da cidade para mais de 50% deles é...cinza!

terça-feira, janeiro 22, 2008

O efêmero

Que a vida é transitória é algo que todos sabemos e fazemos questão de ignorar, como o senhor leitor faz nesse instante ao balançar a cabeça com ar de desprezo.

O auge desse tipo de raciocínio é inconseqüente é visto quando morre um "artista de tv" que participa da novela do momento. Invariavelmente os comentários jornalísticos do falecimento terminam por "O autor da novela declarou que ainda não sabe como fará para contornar a ausência de Fulano sem prejudicar a trama."

Meu, a novela que se foda!

domingo, janeiro 20, 2008

Eterna dúvida

A respeito dos novos "super reforços", do retorno do Luxemburgo e de tudo mais: o que é melhor, ter as esperanças renovadas mas não concretizar os sonhos ou viver no marasmo da falta de expectativas?

terça-feira, janeiro 15, 2008

Sempre, sempre...

"Quinta-feira, 22 de janeiro de 2004

Tarefa de férias: Escreva um programa em C, que, anualmente, na 3ª semana de janeiro, faça um post dizendo "Puxa, esse ano o Palmeiras foi eliminado da Copa São Paulo de juniores. Acho que existe alguma conspiração divina que impede a nação alvi-verde de conquistar esse maldito título";

Que merda..."


http://esporte.uol.com.br/futebol/ultimas/2008/01/15/ult59u142843.jhtm

domingo, janeiro 13, 2008

Todo mundo já se perguntou porque as coisas acontecem de um dado modo e não de outro. Boa parte da física existe para responder a essa pergunta. Por exemplo, a noção de entropia serve para explicar porque as coisas acontecem prioritariamente num sentido e não em outro (como no exemplo clássico de que uma pedra cai e esquenta um pouquinho o chão, enquanto esquentar um pouquinho o chão raramente provoca um movimento da pedra).

Mas não é disso que eu quero falar. Estou pensando na dúvida básica, na situação da encruzilhada: dada uma bifurcação do destino, qual caminho é escolhido?

Novamente há argumentos entrópicos, explicações falando em quantidade de estados acessíveis, medidas de probabilidade, potenciais químicos que se igualam, etc. Proponho no entanto um modelo muito mais simples e unificador: as coisas acontecem de maneira a maximizar a quantidade de piadas.

Como ilustração desse princípio fundamental, tomemos o caso da eleição norte-americana. Eu acreditava na eleição do Obama simplesmente pelo trocadilho estúpido Obama-Osama. Hoje descobri o middle name do cidadão: Hussein.

Sim, meus caros, Barack Hussein Obama. Diante disso, não há dúvidas de que as forças da natureza vão dar um jeito de elegê-lo.

À guisa de exercício, peço que os leitores pensem em alguma de suas recentes frustrações (porque em geral só se pensa "puxa, por que as coisas foram assim?" quando o resultado não é bom) e vejam como a desgraça proporcionou mais piadas...

terça-feira, janeiro 08, 2008

Quando eu estava no colegial havia um cara que era virtualmente imbatível no xadrez. Ele era praticamente um profissional, havia vencido torneios estaduais, talvez até algo nacional. Sua figura longilínea, seus cabelos rebeldes e seu olhar com a ânsia de vitória que só se pode ter aos 18 anos eram marcantes.

Poucas vezes tive o privilégio de enfrentá-lo, em todas elas tive a certeza da derrota no primeiro lance dele. Não porque ele usasse bizarras aberturas, mas sim pela maneira com que ele mexia as peças. Era um estilo de segurá-las com o indicador, médio e anelar, rodá-las ligeiramente e então soltá-las com um certo desprezo. Jamais vi algo parecido.

A vida passou, o mundo seguiu, o fato é que passados 7 anos daqueles episódios encontrei o cidadão no ponto de ônibus. Fiquei chocado com o óbvio: o tempo passou para ele também. Cabelos curtos, olhar domado e um pouco melancólico (claro que ninguém pode estar completamente feliz na Praça da República às 6 da manhã) mas principalmente uma barriguinha de cerveja...

Não consigo imaginar um grande enxadrista gordo. Contra-exemplos devem existir aos montes, mas para mim a gordura abdominal é indissociável da fanfarronice e da falta de auto-controle, características essas incompatíveis com o xadrez. O ônibus demorava a passar, ele entrou numa padaria sinistra. Coisa de gordo, possivelmente.

Avistei-o quando eu entrava no ônibus; ele acabava de sair da padaria. Num instante seu semblante mudou, seu olhar voltou a ter a convicção de outrora, ele correu uns metros e conseguiu apanhar o ônibus.

Há algo dentro dos grandes campeões que recusa terminantemente a resignação.

domingo, janeiro 06, 2008

Fazer balanço do ano que passou e prometer mudanças para o ano que acaba de começar é algo tão batido, mas tão batido, que até a idéia de criticar quem faz esse tipo de coisa não é das mais originais.

O problema desse raciocínio é que ele reduz a cinzas qualquer coisa que possa ser escrita entre o Natal e o meio de janeiro, até que esse espírito bobo de renovação e a revolta inerentemente a ele associada passem.