sábado, abril 29, 2006

Diga-me o que compras e dir-te-ei quem és

6L de coca, 6 de leite, um tablete de manteiga, um pacote de bolacha, uma caixa de ovos, 4 sabonetes e umas fatias de mortadela.

quinta-feira, abril 27, 2006

Na liga estadunidense de beisebol (começo de texto especialmente feito para os leitores da extrema esquerda brasileira), vulga MLB, acontece de quando em vez o classico de Nova Iorque, Mets e Yankees. O segundo é o grande time de la', cinquenta mil vezes campeão, milionario, etc. O outro é o primo pobre, o coitadinho da historia.

Quando eles se enfrentam na fase decisiva do campeonato, o confronto recebe o nome de "Subway series", (subway é metrô, para os não anglophones. Anglophone é quem fala inglês, para os não francophones. Francophone..."cala a boca, vai!"). Quando eu descobri isso comentei que em São Paulo era quase a mesma coisa, exceto que a estação Corinthians-Itaquera não deveria ter esse nome, porque o estadio alvinegro não existe, e a Barra Funda chama...Barra Funda.

Pois bem, chamava. Como o leitor bem informado da Capital deve estar sabendo, mudaram para Palmeiras-Barra Funda.

Claudio Lembo...Beleza, não me esqueço mais do governador que eu não elegi, não vi e não vou acompanhar a saida.

"Em 1946, Daniel-Henry Kahnweiler, grande colecionador e amigo dos cubistas, escreveu em "Juans Gris, sua vida, sua obra": "Não são os pintores que imitam o mundo exterior que nos so' conhecemos vagamente, dentro do limite de nossos sentidos: eles criam este monde exterior, sob forma visivel, são eles que fazm com que enxerguemo-lo de forma semelhante a suas obras, onde os animais ou as crianças, cegos plasticamente, sentem apenas um espetaculo de forças obscuras. A antiga tese de que a artes plasticas são um espelho do mundo tem que ser invertida: O MUNDO EXTERIOR QUE E' O ESPELHO DAS ARTES PLASTICAS".

Discuta essa afirmação utilizando exemplos da criação escultural e pictorica a partir da Renascença.

...

E depois de 3 horas escrevendo mais bobagens do que eu jamais me supus capaz, eis que estou pensando com os meus botões se não teria sido melhor dizer que o autor da frase é um viado, um idiota e que eu nao concordo com metade do que ele disse.

quarta-feira, abril 26, 2006

Imaginem que uma criança deva, por razão obscura, realizar uma prova de historia da arte no pais mais fresco do mundo e que ela tem 6 horas pra se preparar.

Piorando a situação, nesse meio tempo serão disputados dois dos mais fundamentais jogos de futebol do ano (em termos de clubes, Copa do Mundo não vale).

E a criança ainda se da' ao trabalho de contar a historia...

terça-feira, abril 25, 2006

Ainda vivo

Terminadas as provas de verdade, umas horas para respirar antes de encarar o finzinho do segundo ano.

Comecei o segundo ano da Poli ha' exatos 26 meses. Ainda faltam 3 até as férias, mas parece que eu vou continuar num "segundo ano" pelo resto dos tempos.

Agora so' preciso arrumar o quarto, regar a planta e começar a estudar pra prova de Historia da Arte. Pois é, caros leitores, "jogada estilosa de cabelo" não é nada, a França pode nos causar danos muito mais profundos.

segunda-feira, abril 24, 2006

Diálogo imaginário

-Mas o que você faz às sextas-feiras?
-Eu? - com um sorriso irônico e uma jogada estilosa de cabelo para trás - Eu faço um laboratório de mecânica dos fluidos chamado "Instabilidade e Caos".

Mais importante do que fazer o que se gosta, o que é interessante ou mesmo útil para a ciência, o fundamental é escolher alguma coisa que impressiona os outros.

E, sem falsa modéstia, de caos eu entendo, mesmo que não seja no sentido físico da coisa.

Voltando ao assunto de sempre (sinto muito, não deu pra escapar)

http://esporte.uol.com.br/futebol/ultimas/2006/04/24/ult59u101702.jhtm
"Marcelo Villar, técnico do Palmeiras B, dirige a equipe contra o São Paulo, na quarta-feira. A diretoria, porém, já procura um substituto para Leão.

Os nomes de Tite, Toninho Cerezo e Evair, ex-artilheiro do alviverde na década de 90, são os mais cotados.

Para os torcedores, Cerezo, que recentemente deixou o Guarani, é o nome ideal. Os dirigentes, no entanto, têm preferência por Tite, campeão da Copa do Brasil pelo Grêmio e atualmente sem clube.

Evair ainda é idolatrado no clube, mas, segundo alguns conselheiros, não tem a experiência necessária para dirigir o Palmeiras."

Viram, viram? Não sou so' eu!

domingo, abril 23, 2006

Dessa vez não é futebol, ufa!

Defendo a tese de que cursos de língua (acho que "de idioma" seria mais, digamos, idiomático; fica em fransileiro mesmo) servem, em primeiro lugar, como terapia em grupo para pessoas nerds demais para admitir que precisam de terapia. Claro, como efeito colateral aprendemos umas palavras diferentes, uma nova maneira de pensar e esquecemos até mesmo como éramos e viviamos antes.

Pois bem, meu professor de inglês, John Wisdom (um belo nome genérico de professor, certamente ele não existe, é só uma projeção da minha cabeça), é um cidadão um pouco estranho, especializado em alguma coisa de inteligência artificial mas com contatos pelo mundo inteiro. Diz ele, por exemplo, que conhecia um agente da CIA que participou da autópsia da Lady Diana e segundo o qual ela estaria grávida do Dodi e esse seria o motivo de seu assassinato. Sim, a Rainha teria mandado matar.

Sem maiores divagações, o assunto interessante do maluco foi uma certa "teoria dos sinais fracos" (weak signals theory). Não achei grande coisa na internet; basicamente ela prega que algumas vezes recebemos informações sobre eventos futuros mas de maneira tão confusa e escondida que só é possivel ter consciência depois que um grande fato ocorre. Por exemplo, os pilotos do 11 de Setembro não tentaram aprender a pousar. E você só está com esse sorriso irônico porque todos sabemos que as Torres foram atacadas.

Claro que se a informação só se torna compreensível depois de perder qualquer capacidade premonitória então sua utilidade não vai muito além da curiosidade. Por enquanto.

Pesquisas estão sendo feitas pra tentar usar esse ruído de fundo na previsão de bolsas de valores, para definir estratégias empresariais y otras cositas más.

E qual a função desse post? Não tenho idéia, com sorte ficará claro daqui a um tempo.

sábado, abril 22, 2006

Boato

Ouvi dizer que o Palmeiras vai fechar.

Perder bonito ou ganhar feio?

Para um técnico da seleção brasileira, essas são as duas possibilidades basicas, afinal temos acesso a um esquadrão incomparavel de jogadores e podemos fazer o diabo. É bem verdade que alguns, na historia recente, conseguiram perder feio (vide Leão e Luxemburgo). Ganhar bonito é uma opção inexistente desde o fim da era Pelé. Hoje em dia é uma brincadeira de adultos, por definição não se pode ter tudo o que se deseja.

Nossos ultimos titulos mundiais foram quase vergonhosos para o pais do futebol. Sou fã do Scolari, mas enfrentar uma Alemanha que so' tinha uma jogada (cruzamento para o Klose) com Lucio, Roque Junior, Edmilson, Gilberto Silva e Kléberson soa quase como exagero.

Nos tempos gloriosos e de fartura de dinheiro, o mestre Luxa armava suas equipes de modo quase irresponsavel, pensando em espetaculos e gols. Ou ele envelheceu ou a magia dos brasileiros esta' acabando, os 33 gols em 19 jogos no Paulistão servem de ponto de partida dessa analise.

Em todo caso, ainda me lembro de um Palmeiras e São Paulo, ha' uns 12 anos, com Luxemburgo do nosso lado e Telê do deles. Creio que a primeira falta aconteceu la' pelos 25 minutos do primeiro tempo, algo inacreditavel logo depois da "Seleção" com Dunga, Mauro Silva e Mazinho.

O futebol-arte morreu, todos sabemos. Mas morreu também a coragem de arriscar uma derrota por apego aos principios classicos. Daqui para frente jogaremos todos no 5-4-1 e continuaremos chamando isso de futebol. Felizmente existem os videos de 70 e de 82.

sexta-feira, abril 21, 2006

Engenharia? Eu vou é virar profeta

Quando eu tinha 9 anos e o Palestra era o melhor time do mundo graças à lavagem de dinheiro da Parmalat, um certo goleiro chamado Armelino Donizetti Quagliato, vulgo Zetti, e um atacante com ligações familiares com a natureza ("Filho do vento") e nome de matematico suíço (certeza que o pai dele pensou no Euler mas tacou um "l" a mais) impediram que o mundo compartilhasse da minha opinião.

Quando eu tinha 19, consegui um monitor emprestado e encarei 5 horas de fuso para ouvir a revanche. Perdemos de novo, com aquele chute do Cicinho que o próprio nunca mais vai conseguir repetir.

Acordo hoje assustado, tinha sonhado com a Copa e que o Paraguai perdia para a Suécia por 9 a 6. Isso não é uma profecia, foi apenas delirio. Ligo o computador para ver se o mundo continua inteiro lá fora ou se os amigos do Osama voltaram a atacar e encontro a grande noticia: http://esporte.uol.com.br/futebol/ultimas/2006/04/20/ult59u101619.jhtm

Pois bem, meus caros, desta vez eu tenho um monitor, eles não tem mais nenhum lateral mitológico, goleiro fantástico ou atacante predestinado. Esquece, têm aquele Thiago que faz gol toda santa semana. Pensando bem, o Rogério Ceni também é lendario. E o Junior, nosso pequeno lateral-esquerdo de 99 pode muito bem virar a casaca e acabar com o sonho verde, comme d'habitude. Está perdido, é obvio, mas nem por isso vou deixar de madrugar na semana que vem, antes de uma prova de história da arte (?!), para ouvir a derrota. Quase masoquismo, eu diria.

He examined the chess problem and set out the pieces. It was a tricky ending, involving a couple of knights. " White to play and mate in two moves." Winston looked up at the portrait of Big Brother. White always mates, he thought with a sort of cloudy mysticism. Always, without exception, it is so arranged. In no chess problem since the beginning of the world has black ever won. Did it not symbolize the eternal, unvarying triumph of Good over Evil ? The huge face gazed back at him, full of calm power. White always mates. (George Orwell, 1984. Desculpas aos que não falam inglês, mas a tradução em português que eu achei na net não prestava e a minha versão em francês esta' com o Tiago ha' exatos 9 meses, certo?)

quarta-feira, abril 19, 2006

Tudo na vida tem um sentido oculto. Ou não.

Tem dias em que se anda de madrugada pela escola carregando um livro de matemática aplicada, uma caneta tinteiro, uma garrafa de coca pela metade, uma gravura pintada por alguém da faculdade e um casaco indiano.

(Estou me controlando. Nada de Verissimo, sem lamúrias relacionadas ao Evair. Mente acima do corpo, mente acima do corpo.)

Fantasmas do passado

Estádio do Pacaembu, 1995. Palmeiras e Corintihians, falta na intermediária para os alvinegros. Velloso não coloca barrreira, a falta era longe demais. Marcelinho Carioca alega ter ouvido uma voz o aconselhando a bater de três dedos. Ele realmente o faz e goleiro nenhum pegaria aquele pombo sem asa. 1 a 0, placar final. Até hoje, nos aquecimentos em que tenho de girar os dois braços ao mesmo tempo, de maneira não sincronizada, lembro desse distinto senhor comemorando o gol.

O curioso é que o 7 alviverde atual é o mesmo de outrora, o glorioso Edmundo (pensando bem, não sei se ele está jogando com a 7. Acompanhar apenas pelo rádio é uma merda...), enquanto Marcelinho segue treinando separado do elenco. Seria bem bonito ver um outro confronto entre dois ídolos do passado que fracassaram pela Europa, perambularam pelo Brasil e agora tentam voltar para casa, mas eles já não são os mesmos e a casa tampouco.

Talvez Heráclito de Tarso (santo google) criaria um aforismo com esse clássico e não com a maldita história do rio ("o mesmo homem não se banha duas vezes no mesmo rio"). Talvez trazendo o Evair...

terça-feira, abril 18, 2006

Tentando agradar corintios e espartanos

Def: Uma relação de equivalência é uma relação binária entre elementos de um dado conjunto. De forma mais rigorosa, uma relação de equivalência em um conjunto X é uma relação binária

que é reflexiva, simétrica e transitiva:

  • x ~ x (reflexividade )
  • Se x ~ y então y ~ x ( simetria )
  • Se x ~y e y ~ z então x ~ z ( transitividade)
Def: Em matemática, dado um conjunto X com uma relação de equivalência ~, a classe de equivalência de um elemento x ∈ X é o subconjunto de todos os elementos de X que são equivalentes a x:

O mote era a incrivel profusão de novos Pelés no Brasil e novos Maradonas na Argentina. Robinho e Ronaldinho Gaucho; Ortega, Aimar, Messi e praticamente qualquer outro destaque "portenho"...é bem verdade que muitas vezes a relação não é de igualdade, que isso fique muito claro, apesar da igualdade ser sim uma relação de equivalência. Deu pra entender? Basta cumprir aquelas três regrinhas e pronto.

Mas o que eu queria realmente falar é que aparentemente existe uma classe de equivalência das meninas certinhas que fazem todas as lições e sentam-se na primeira fileira. Parece ser uma mafia internacional, sempre com seus oculos e seus belos cadernos cheios de exercicios e anotações coloridas. Aparentemente também elas dormem na sala de aula, é a unica maneira de justificar o fato de que elas SEMPRE chegam antes de você, não importa que você tenha programado errado seu despertador ou confundido a hora de inicio da aula.

Finalmente, o que me chamou a atenção e me levou a desencavar esse rascunho de post foi um francês numa aula dessa semana. Cabelo meio estranho, sentado no extremo da fileira das meninas-que-dormem-na-sala, ar de quem entende aquilo que o professor esta' falando assim que tiver vontade...

O triste é que não existem classes de equivalências apenas para nossos idolos ou amigos, mas também para nos mesmos...Isso não chega a ser uma novidade, eu sei, uma das leitoras em particular ja' deve ter ouvido falar o bastante de eus-paralelos nos ultimos n anos...

segunda-feira, abril 17, 2006

Repostando...

Quando a criatividade falta, postamos o velho texto do Verissimo...

Versões

Vivemos cercados pelas nossas alternativas, pelo que podíamos ter sido. Ah, se apenas tivéssemos acertado aquele número ("Unzinho e eu ganhava a sena acumulada"), topado aquele emprego, dito "sim", dito "não" ido para Londrina, casado com a Doralice, feito aquele teste...Agora mesmo neste bar imaginário em que estou bebendo para esquecer o que não fiz -aliás, o nome do bar é "Imaginário" - sentou um cara do meu lado direito e se apresentou.
-Eu sou você, se tivesse feito aquele teste no Botafogo.
E ele tem mesmo a minha idade e a minha cara. E o mesmo desconsolo. Por quê? Sua vida não foi melhor que a minha?
-Durante um certo tempo, foi. Cheguei a titular. Cheguei à seleção. Fiz um grande contrato. Levava uma grande vida. Até que um dia...
-Eu sei, eu sei...-disse alguém sentado do outro lado dele. Tinha a nossa idade e a nossa cara e não parecia mais feliz do que nós. Ele continuou:
-Você hesitou entre sair e não sair do gol. Não saiu, levou o único gol do jogo, caiu em desgraça, largou o futebol e foi ser um medíocre propagandista.
-Como é que você sabe?
-Eu sou você, se tivesse saído do gol. Não só peguei a bola como mandei para o ataque com tanta perfeição que fizemos o gol da vitória. No jogo seguinte, hesitei entre me atirar nos pés de um atacante e não me atirar. Como era um "herói", me atirei. Levei um chute na cabeça. Não pude mais ser goleiro. Não pude mais ser nada. Nem propagandista. Ganho uma miséria do INPS e só faço isto: bebo e me queixo da vida. Se não tivesse ido nos pés do atacante...
-Ele chutaria para fora.
Quem falou foi outro sósia nosso, ao lado dele, que em seguida se apresentou.
-Eu sou você se não tivesse ido naquela bola. Não faria diferença. Não seria gol. Minha carreira continuou. Fiquei cada vez mais famoso, e agora com fama de sortudo também. Fui vendido para o futebol europeu, por uma fábula. O primeiro goleiro brasileiro a ir jogar na Europa. Embarquei com festa no Rio...
-E o que aconteceu?- perguntamos os três, em uníssono.
-Lembra aquele avião da Varig que caiu na chegada em Paris?
-Você...
-Morri com 28 anos.
Bem que tínhamos notado a sua palidez.
-Pensando bem, foi melhor não fazer aquele teste no Botafogo...
-Nem sair do gol naquela bola...
-E ter levado o chute na cabeça...
-Foi melhor- continuei - ter ido fazer o concurso para o serviço público naquele dia. Ah, se eu tivesse passado...
-Você deve estar brincando - disse alguém sentado à minha esquerda.
Tinha a minha cara, mas parecia mais velho e desanimado.
-Quem é você?
-Eu sou você, se tivesse entrado para o serviço público.
Vi que todas as banquetas do bar à esquerda dele estavam ocupadas por versões de mim no serviço público, uma mais desiludida que a outra. As conseqüências de anos de decisões erradas, alianças fracassadas, pequenas traições, promoções negadas e frustração. Olhei em volta. Eu lotava o bar. Todas as mesas estavam ocupadas por minhas alternativas e nenhuma parecia estar contente. Comentei com o barman que, no fim, quem estava com melhor aspecto, ali, era eu mesmo. O barman fez que sim com a cabeça, tristemente. Só então notei que ele também tinha a minha cara, só com mais rugas.
-Quem é você - perguntei?
-Eu sou você, se tivesse casado com a Doralice.
-E?
Ele não respondeu. Só fez um sinal, com o dedão voltado para baixo.

quinta-feira, abril 13, 2006

Sem palavras

13/04/2006 - 18h50
Mulher morre vendo TV e só é encontrada três anos depois

LONDRES, 13 Abr (AFP) - O corpo de uma mulher morta há três anos foi descoberto em seu apartamento em Londres rodeado de presentes de Natal fechados e diante de uma televisão ligada, informou nesta quinta-feira a polícia da capital britânica.

O corpo de Joyce Vincent, de 40 anos, foi encontrado em janeiro passado.

A mulher teria morrido de causas naturais no início de 2003, com base, entre outras coisas, no prazo de validade dos alimentos encontrados na casa.

Os dirigentes da associação que tinha oferecido o apartamento a Joyce Vincent - vítima de violência conjugal - alertaram as autoridades sobre o grande número de meses de aluguel sem pagar.


(
http://noticias.uol.com.br/ultnot/afp/2006/04/13/ult34u152283.jhtm)

Leia primeiro a mensagem de baixo, por favor

Teorema: as coisas nunca ficam repentinamente boas ou ruins.

Apos o fracasso, previsivel, da copa dos campeões, um envelope marrom encontrava-se curiosamente perdido na minha caixa de correio. Não tendo ares de propaganda idiota, cobrança abusiva ou extrato bancario, achei que deveria abri-lo o mais rapido possivel.

"Madame, Monsieur

Nous faisons suite à votre demande référencée sous le N° XYZ(não vou colocar o de verdade) et nous avons le plaisir de vous communiquer la liste des billets qui vous ont été attribués et dont vous trouverez le détail ci-dessous.

Vous recevrez prochainement par courrier les billets qui vous ont été attribués et dans l'attente du plaisir de vous accueillir à l'occasion des prochains Internationaux de France, nous vous prions de croire, Madame, Monsieur, à l'expression de nos sentiments les meilleurs.

Service Billetterie
Fédération Française de Tennis"

Traduzindo: é, rapaz, dessa vez você se deu bem. Parabéns aí pelos ingressos, cola aí no começo de junho que nois tamo te esperando, beleza?

Puta que pariu, eu vou assistir um jogo de Roland Garros ao vivo! Caralho!

Cher fan de football,

Nous nous référons à notre message antérieur concernant la finale de l’UEFA Champions League 2006 vous informant que votre demande avait été placée sur liste d’attente.

Malheureusement, tous les billets ont été vendus et la phase de vente est terminée.

Nous vous remercions de votre compréhension et de votre intérêt pour le football européen et nous espérons vous revoir bientôt lors d’une occasion future.

Avec nos meilleures salutations.
Le Comité d’organisation local de la finale de l’UEFA Champions League 2006



---- ENGLISH VERSION ----

Dear Football Fan,

We refer to our previous message with regard to the UEFA Champions League Final 2006 informing you that your application had been put on the waiting list.

Unfortunately, all tickets have been sold and therefore the sales process is closed now.

We thank you for your patience and for your interest in European football and we hope to see you on a future occasion.

With kind regards
The Local Organising Committee of the UEFA Champions League Final 2006

(Traduzindo apenas a parte que interessa, os dois parágrafos centrais:

Infelizmente todos os ingressos foram vendidos e portanto o processo de vendas está encerrado.

Nós agradecemos sua compreensão e interesse no futebol europeu e esperamos vê-lo numa futura ocasião)

Isso foi mais humor negro que aquela piada do "feliz aniversário" do menino com câncer,

"Parabéns pra você
nesta data querida,
muitas felicidades,
nãnãnã nã nãnã"

quarta-feira, abril 12, 2006

Um pedido de ajuda numa garrafa...

Americana, 1995 (acho), Corinthians e Rio Branco.

Falta para a equipe do interior, no gol da esquerda de quem assiste pela tv. Um obscuro atacante cobra no canto esquerdo alto do Ronaldo (ele mesmo, Ronaaaaaaldo, como preferem alguns), a bola caprichosamente toca na trave e volta para ele mesmo emendar um chute de canhota, desta vez no canto direito. Gol irregular mas validado pelo árbitro.

Pergunta-se: qual era o nome do cidadão?

Prêmio de eterna gratidão ao leitor que descobrir. Tenho certeza que o cara chamava Marcelo Carioca, Marcelinho, algo desse estilo, perfeitamente confundível com Marcelinho Carioca. Pergunta bônus: se era realmente Marcelinho, seria o atleta atualmente conhecido como "Marcelinho Paraíba"?

Prêmio de consolação ao leitor que ao menos levou esse post a sério e se compadeceu de minha loucura...

terça-feira, abril 11, 2006

Contabilidade

Por algum impulso obscuro acabei me tornando o tesoureiro do binet Latino (para os que ainda não estão familiarizados a essa nomenclatura, binet é uma associação de alunos da nossa queridíssima Ecole Polytechnique. No caso específico do binet latinom trata-se apenas dos brasileiros e chilenos de sempre recebendo umas subvenções extras do governo francês.)

Porém, nem tudo são flores...Para evitar malufagens maiores, somos obrigados a apresentar a contabilidade do binet a cada bimestre, ou a cada mês, não sei ao certo. Depois de sofrer por semanas tentando usar um super software francês idiota, descobri que um cidadão da Kès tinha me enviado o arquivo errado (Kès é uma espécie de grêmio, a mãe de todos os binets, em certo sentido).

Mais um certo tempo batendo cabeça e finalmente consegui mandar a contabilidade digital. Como, segundo de Gaulle, isso aqui deveria ser um país sério eu tive que mostrar as notas fiscais de nossa atividade.

Não estando muito disposto no dia em que fiz a contabilidade e confiando em demasia na própria memória, acabei cometendo certos erros...Tínhamos 4 ítens a declarar, confundi a compra de bebidas com a de comida e a decoração com a publicidade. Quase igual.

No entanto, o cidadão que deveria fiscalizar meu trabalho disse que estava tudo ótimo, fantástico, excelente trabalho...

Começo a entender melhor o Maluf e o Lalau. Se é tão fácil assim desviar dinheiro no primeiro mundo, no Brasil deve ser irresistível...

domingo, abril 09, 2006

Texto repetido

Tenho certeza absoluta que já escrevi esse texto. Procurei nos arquivos d'O Blog, usando tanto a formidavel ferramenta "ctrl-f" quanto uma procura específica em algumas datas-chave. Nada. Vamos lá, uma outra vez...

Quando eu era pequeno e começava a entender esse estúpido jogo de 22 jogadores, uma bola e otras cositas más ouvi uma sentença dita pelo meu pai: "O Santos nunca mais vai ganhar nada".

Uma frase dessas, do próprio pai, aos oito anos, soa como verdade absoluta. E, para sorte do meu pai, foi realmente verdade durante todo meu processo de aprendizado futebolístico. A explicação era evidente, o Santos era um fantasma do passado dele e uma eterna viúva do Pelé. Depois do Rei, eles não tinham nada mais a fazer. A contribuição da Vila ao mundo já foi muito bem dada, só restava ficar prendendo a bola perto da bandeirinha de escanteio até o final dos séculos.

Muitas vezes eu fiquei pensando naquele gol do Serginho Chulapa, final do campeonato paulista de 84, uns poucos meses antes de eu nascer. O último gol do último título de um ex clube grande.

Claro que a geração do Robinho acabou com a magia do aforismo do meu pai, duas vezes, aliás. (Diga-se de passagem que é por isso que eu tinha certeza de já ter escrito isso, em 2002 ou 2004. Negativo.)

Ouvi a vitória alvinegra sobre a Lusa umas horas atrás, mas a distância da pátria amada dificulta um pouco a atualização das estatísticas, na minha cabeça. Eu sei que o São Paulo ganhou o Paulista e a Libertadores do ano passado, que o Corinthians é o atual campeão brasileiro, mas não é a mesma coisa de ver aquelas malditas edições de segunda-feira, "Um campeão com todos os méritos" ou coisa que o valha, com as fichas completas de cada jogador, incluindo nome completo e data de nascimento de todos aqueles reservas irrelevantes.

Um dia vão me perguntar quem ganhou o paulistão de 2006. Com sorte eu vou lembrar de que estava no segundo ano, na França, que ouvi o jogo pela internet ("Céus, como éramos primitivos no começo do século") e que o Santos venceu a Portuguesa. Provavelmente vou emendar com o bizarro título dividido entre essas duas equipes em 73, afinal conhecimento antigo sempre impressiona. E também porque, no fundo, o Santos nunca mais ganhou nada.

sábado, abril 08, 2006

Hein?

Vasculhando o lixo que os veteranos deixaram (o ano letivo para eles ja' acabou e eles foram forçados a sair de seus quartos neste sabado) encontrei uma boa dezena de livros pseudo-uteis, uma plantinha simpatica, uma bola de rugbi e um cone.

é, um cone, daqueles de rua.

(O autor tem plena de consciência de que ja' viveu historias mais consistentes e coerentes. Pedimos desculpas ao publico e prometemos que na temporada 2006/2007 o bom senso vai predominar. Ou não.)

sexta-feira, abril 07, 2006

A noção de ridiculo

Os professores franceses têm o habito de mandar uns alunos na lousa, de vez em quando. Eu até que tenho bastante sorte neste quesito, em um ano fui apenas 3 vezes. Digo, 4.

Pois é, o professor de mecânica dos fluidos cismou que era o EV que deveria resolver o exercicio. Claro que o EV em questão se embananou em coisas basicas de matematica, que até ele mesmo sabe...Em outras passagens eu realmente não tinha a menor noção do que se passava e só esperava a piedade divina ou do professor pra voltar pro meu lugarzinho no fundo da sala.

Em dado momento ele retoma a palavra e começa a escrever umas coisas na lousa. Me lembro então dos antigos métodos de transmissão de pensamento forçada, começo a mandar mensagens "você pode se sentar", em francês, claro (afinal, a probabilidade de que dê pra transmitir alguma coisa apenas com o poder da mente é baixa o bastante para correr o risco de colocar tudo a perder apenas por usar uma lingua que o cidadão não fala. Se é pra tentar, façamos direito).

Coincidência ou não, ele me mandou sentar.

Nesta terra,em se plantando tudo dá

Um sonho infantil bastante recorrente é o de ser astronauta. Fruto da guerra fria, claro, quando os foguetes eram o auge da tecnologia e os astronautas heróis nacionais. Hoje em dia, depois da queda do Muro e da Challenger, perdeu-se um pouco o charme.

Acreditando gostar das ciências exatas e às voltas com escolas militares bizarras, eu até poderia ter investido em parte deste sonho. Na verdade, a minha condição física privilegiada seria um fator limitante, mas que poderia ser corrigido (merda, isso aqui tá virando repetição do texto do juiz. Acabei de descobrir acidentalmente que o código para ± é alt 02225, enquanto "á" é alt 0225. Segue o texto.). Intrasponível é meu medo de altura, alguém que nem olha para fora em elevador panorâmico não pode ficar em órbita.

Pois bem, não sou eu, e sim o nosso querido astronauta brasileiro que está lá em cima girando em algum lugar sobre as nossas cabeças, realizando seus "experimentos". Sempre quis saber que tipo de experimentos eram esses, hoje encontrei uma notícia : http://noticias.uol.com.br/ultnot/afp/2006/04/06/ult1806u3702.jhtm

Sim, o maluco está plantando feijãozinho no algodão. Depois questionam porque os jovens brasileiros saem do país para estudar...

quarta-feira, abril 05, 2006

15000!

Parabéns às duas mais antigas leitoras do blog e que se aproximaram incrivelmente da marca histórica, e parabéns ao ilustre desconhecido "Brasil Telecom"...

Voltemos para o glorioso ano de 1999, uma época em que eu era grande o bastante para entender bem o futebol mas novo o suficiente para continuar tendo aulas somente de manhã. Um ano em que o melhor técnico do mundo em competições mata-mata (Felipão, claro. Se a Copa fosse em jogos de ida e volta, eu colocava todo meu dinheiro em Portugal campeão) estava no banco alvi-verde.

Mas não é do time que eu pretendia falar (se bem que uma equipe com Marcos, Arce, César Sampaio, Alex, Júnior e Evair deveria sempre ser enaltecida...), e sim da maravilha que era voltar da escola às quartas-feiras, dormir o começo da tarde, acordar lá pelas 4, assistir a um jogo da Copa dos Campeões e esperar a partida da Libertadores, à noite.

Claro que o tempo passou, a Parmalat faliu, o Evair se aposentou, o Felipão ficou mais famoso, o Marcos quebrou a mão 8 vezes e eu vim parar na Europa, mas os jogos das duas maiores competições continentais continuam ocorrendo nos mesmos dias...O fato é que hoje em dia eu durmo depois da janta, assisto ao mesmo jogo do Milan de sempre (sem pastel, o que é uma pena, mas o Costacurta e o Maldini estão lá há quinze anos, pelo amor de Deus) e fico pensando se vai rolar uma outra noite em claro pra ouvir, com atraso e distorção, o Palmeiras pelo rádio. Sim, a infância sempre parece mais azul.

(O resto do texto fica apenas como registro pessoal, o leitor pode, em primeira leitura, pular este trecho. Parênteses futebolístico propriamente dito: eu tenho um ódio antigo e inexplicável pelas equipes de Milão. Acho que a última vez que tinha torcido pelo Milan foi contra o São Paulo, em 93, mas isso nem conta. E eis que hoje me flagro esperando uma estocada fatal do Shevchenko, um cruzamento do Serginho, um chute do Pirlo, sei lá. Percebi então que o meu problema com a seleção brasileira era o Galvão Bueno, e não o Parreira. O narrador francês, apesar de não puxar os “erres” como o Gavião, é da mesma escola de chatice, daí a torcer contra ele é um pulo. No fundo, torci contra os franceses, contra a Revolução, enfim, contra tudo o que está aí. No fundo mesmo, era claro que os poderosos italianos iam ganhar o jogo no finalzinho.

Se o querido leitor for técnico de uma equipe mediana, nunca, repito, NUNCA coloque todos os seus jogadores no campo de defesa nos últimos 15 minutos. Nunca coloque também um lateral-direito extra. Faça como o Telê, em 82, que precisando do empate...Bem, na verdade acho que a unica coisa que funciona é criar caso com o juiz, jogar bolas no campo, fazer sinal de que o jogo acabou a partir dos 40 e, se possível, ter nascido no Rio Grande do Sul, quiçá na Argentina.

Por falar em Argentina, o Villarreal conseguiu chegar nas semi-finais. Alguém poderia imaginar que eu atribuiria somente à presença dos argentinos. Não, o segredo é colocar o Riquelme e o Arruabarrena de amarelo. Não achei nenhum video na internet, me desculpem. Digo-lhes que os argentinos impediram o bicampeonato alvi-verde com o auxilio do juiz, com defesas do grande colombiano Cordoba, lampejos geniais do “Riquelminho” e, mais inacreditavelmente, dois gols de um obscuro lateral-direito, o digníssimo Arruabarrena supra-citado. Hoje a torcida da Inter de Milão entende o meu drama e um jovem garoto milanês se promete de não esquecer o bizarro nome do seu carrasco. Como Buljubasich, mas isso é historia pra outro dia.)

segunda-feira, abril 03, 2006

Por preguiça...

Por falta de grandes historias, pelas restrições de tempo e pelo sono, me limito a informar que o blog (bem, na verdade este aqui e o irmão mais velho) estão quase atingindo a marca de 15000 visitas. Provavelmente vai acontecer na quarta-feira, mas fiquem de olho, clicando nesse graficozinho vermelho e cinza, à esquerda, embaixo do perfil. Dêem um print screen se virem o numero redondo, não prometo prêmio algum ao 15000° visitante mas ficaria bastante grato de ver essa imagem.

domingo, abril 02, 2006

Carreira alternativa

Outro dia vi na tv uma propaganda de vagas para árbitros de futebol, acho que são 25.000 novos juízes a serem contratados.

Por uns dois minutos fiquei imaginando que eu podia começar numa terceira divisão francesa, ir subindo, chegar até o nível nacional, com sorte apitar alguns jogos europeus, chegar numa copa do mundo, talvez. Ser ev2, nesse caso, é uma vantagem, porque entre, digamos, Lyon e Lille eu não tenho absolutamente nenhuma preferência.

Um pouco depois de conquistar o mundo em sonho (já imaginaram, cena antológica em 2022, eu n a final da copa, Tunísia e Butão, aquele simpático jovem juiz já meio careca apitando o encerramento, sendo soterrado por tunisianos em festa, a imagem percorrendo o mundo...), lembrei que eu sou míope e que não é muito comum ver um juiz de óculos, possivelmente pela falta de confiança que ele inspiraria.

Também é um fato que o juiz corre quase tanto quanto os jogadores, e que a minha atual forma rechonchuda não contribui muito para grandes performances fisicas.

E se nada disso bastasse (sempre existe a opção de cirurgia para miopia e um belo regime forçado), lembrei que ser juiz não é uma coisa trivial, além de incrivelmente arriscada. Claro que o prazer de ver os jogos ao vivo e o poder de interferir na história são tentadores, mas até chegar nesse ponto eu teria que fugir de muita briga nos recônditos franceses.

Minha capacidade de decidir sob pressão e meu olho clínico não são de alto nível, eu hesitaria na hora de um pênalti, ficaria intimidado com um zagueiro tcheco de 1.97m e arruinaria a carreira em duas semanas. Receberia garrafadas e copos d'água quando quebrasse um galho de bandeirinha. Agüentaria provocações de técnicos mal-encarados como quarto arbitro.

Seria entrevistado por repórteres idiotas dizendo que errei em todos os lances capitais e teria no dia seguinte a repetição à exaustão, em todos os canais, dos mesmos.

Não, isso nem pode ser qualificado de sonho. Afinal, pior que ser o cara que se estica e se mata para evitar a alegria do povo é ser o infeliz com o apito na boca ou com a bandeira erguida anulando a celebração de meio mundo.

sábado, abril 01, 2006

Uma catástrofe é uma série de pequenos erros (autor desconhecido)

Calma, meus caros, nada de grave ocorreu. Ontem aconteceu um baile de despedida dos 2003, algo como uma formatura, pero no mucho. Um evento festivo, digamos, de encerramento de uma fase de curso. Na verdade eles não têm mais aulas aqui, alguns ainda têm que fazer umas provas, mas no geral eles estão livres.

Festa de muita pompa e ostentação, como é muito caro aos franchucos; na "Opéra de Paris", lugar daqueles chiques e extremamente quentes (no sentido real, de temperatura mesmo) com cara de filme sobre a corte do Luis XIV. Eu, pobre mortal polytechnicien, achei que seria de bom grado portar minhas lentes de contato. Lêdo e ivo engano, considerando que eu deveria ficar com elas por umas 10 horas e que no meio da noite eu já não enxergava mais nada.

Como as coisas aqui acabam relativamente cedo, lá pelas 3 e pouco decidimos voltar pra escola. Pequeno problema: o trem não costuma funcionar durante a madrugada. Parte do grupo se separou, 3 embarcaram num taxi encontrado meio por milagre. Entre a possibilidade de esperar por horas por um outro taxi ou andar até o metrô e esperar que ele abrisse, fiquei com a segunda, claro. Nos dividimos outra vez e segui com dois chilenos e um marroquino.

É preciso dizer, no entanto, que o traje dos alunos é o famigerado GU, o nosso uniforme militar, mesmo para os estrangeiros (e portanto não-militares por definição). Durante a festa fica razoavelmente simpático aquele amontoado de botões dourados, tirando que encontrar alguém se torna uma tarefa bem mais complexa (ainda mais sem enxergar à distância), mas a grande graça vem do trajeto até o metrô.

Imagine, meu caro leitor, que você é um parisiense pobre, sem emprego, com raiva do sistema e participando de diversas manifestações sobre o Contrato do Primeiro Emprego (é assim em português? Bom, CPE). E de repente, no meio da madrugada, você encontra uma meia dúzia de quatro polytechniciens, estrangeiros, andando na rua com seu uniforme ridículo.

Alguns riam, outros apontavam, um cidadão até pediu para tirar uma foto nossa. (Comentário pra quando editar O Blog em livro: sim, era eu naquela famosa foto dos polytechniciens sob a chuva antes dos protestos, mas não, nós só estavamos voltando pra casa. E aquela declaração contra o Chirac também não foi nossa.).

Atravessamos uma rua e ouvimos, de um ponto de ônibus, um grupo de jovens (com tradução livre do espanhol, nas falas do chileno):

Allons enfants de la patrie, le jour de gloire est arrivé !
Contre nous de la tyrannie
-David, eles estão seguindo a gente
L’étendard sanglant s’est levé, (bis)
-Não, acho que não.
Entendez-vous dans nos campagnes
-Olha bem pra trás.
Mugir ces féroces soldats
-Não, aqueles eram negros, eles continuam l
á no ponto.
Ils viennent jusque dans vos bras, égorgez vos fils, vos compagnes!
-Desculpa, é o instinto paulistano, de vez em quando a gente se engana. Em todo caso, vamos virar à direita. Se eu fosse carioca, não errava jamais.

Não creio que eles tenham chegado até o “Aux armes, citoyens”. Entretanto, na tal rua à direita, o marroquino que estava conosco parou pra comer um kebab. Ambiente sinistro, pessoas mal encaradas, e o magrebino achando tudo aquilo normal. Os sudacas, como de costume, se cagando. Um francês puxa assunto comigo e com o Sergio. Assunto daqueles delicadíssimos, ‘Você pensa que a França é um país de loucos? Que aqui a gente luta por nada?'. Enquanto eu escolhia bem minhas palavras, vi que um pessoal no fundo revirava um cesto de lixo e pegava umas garrafas. “Brasileiro é morto em Paris a garrafadas por usar uniforme de escola. ‘Ele odiava militares’, diz a familia”.

O ponto central é que o brasileiro, por mais fodido que esteja, sempre acha que num mágico golpe de sorte tudo vai melhorar, e por outro lado aquele que disfruta do bom e do melhor reclama que as coisas não estão indo lá muito bem. Aqui, a sua nota de matemática do colegial basicament define se você vai ser rico (e portanto feliz, no raciocínio raso) e ter um cargo no governo ou se vai ser mais um pobre coitado desempregado. É fatalista demais pro meu gosto. Pra piorar, eu estou do lado dos que venceram, dos que vão dominar o pais, da elite, do povo mesquinho, arrogante e burguês. O fato de ter entrado pela porta dos fundos não é um problema tão grande, ao menos aos olhos de quem está fora daqui.

A conversa se acalmou, chegou um amigo do francês que era neto de chilenos, andamos um pouco mais sob a chuva e logo já eram mais de cinco da manhã e pudemos entrar no metrô.

Não sei como terminar o texto. O fato é que somos burguesinhos idiotas que vamos ter mais oportunidades que a grande massa francesa, e pra piorar são eles mesmos que estão pagando por isso. Obviamente não é pela nossa capacidade, um francês de nivel médio que bomba o exame de admissão da X sabe trocentas vezes mais matemática e física que eu, tampouco pela contribuição cultural. Eles querem raízes no exterior, querem alguém que defenda essa elite que dança valsa na opéra. E nós aceitamos o acordo, não posso negar.

Formez vos bataillons!
Marchons, marchons
Qu'un sang impur
abreuve nos sillons!