quinta-feira, julho 30, 2009

História singela

A história a seguir é real. Nomes não serão citados por razões que se tornarão evidentes ao final da leitura.

Um conhecido meu foi trabalhar nos EUA uns anos atrás. Ele, a esposa e um filho de não sei quantos anos. Para completar a família, porém, a empregada/governanta/babá/chefe do lar também foi convidada a ir com eles.

Ela, excelente cumpridora de suas múltiplas funções, aceitou. Obviamente viajou sem falar inglês, mas para trabalhar com a família brasileira não haveria grande problema.

Após uns poucos meses o filho trouxe um norte-americaninho para brincar com ele. As duas crianças começaram a se bater, como é normal.

Imagine-se agora no lugar da mulher. Ela sabia que precisava fazer alguma coisa para interromper aquilo. Poderia ter usado a tática de muitos brasileiros, "é só falar português bem devagar que todo mundo entende". No entanto, ela se aproximou do gringo e disse "Love, love!".

Poucas vezes vi uma atitude tão inteligente.

Atualmente ela continua nos States mas agora como imigrante clandestina. Essa a Imigração não vai pegar.

domingo, julho 26, 2009

Teoria/Teorema

Sejam A e B dois conjuntos tal que A está contido em B. Seja f uma função de B nos reais. Então o valor máximo de f(x) com x pertencente a A é menor ou igual ao valor máximo de f(x) com x pertencente a B.

Para os não-matemáticos que insintem em ler, não vou dizer que o parágrafo acima é trivial e gastar outras várias linhas na tentativa de mostrar que está realmente correto e que é de fato simples. Muito melhor seria dar um exemplo.

Imagine uma tarefa que você é capaz de fazer apesar de alguma dificuldade imposta. Espirrar com os braços amarrados nas costas, por exemplo. Se a dificuldade for removida (deixando você desamarrado), seu espirro será tão ruim (ou tão bom) quanto anteriormente.

Por outro lado, se for necessário fazer alguma coisa em que a "dificuldade" externa torna-se limitante, como escrever uma carta sem usar as mãos, é óbvio que o resultado será pior do que quando não há restrição.

O "teorema" do começo é apenas isso, diz que ou há limites que atrapalham ou que eles não fazem diferença, sendo garantidamente melhor (ou, a rigor, "não pior") viver sem eles.

Se isso fosse verdade fora da matemática, os sonetos teriam acabado há anos, afinal a idéia de submeter a criatividade a uma forma rígida apenas a prejudica. Pera aí, já usaram esse argumento antes? E as pessoas continuam a escrever sonetos (não todo dia, nem todas as pessoas, claro)?

Enfim, acho a idéia do Twitter meio estúpida. Um blog normal permite que se escreva com mais ou menos de 140 caracteres, então qualquer coisa que pode ser escrita aqui ficaria na melhor das hipóteses inalterada no Twitter.

Porém, o que o teorema não prevê é que a função seja diferente em A e em B. Se existissem duas funções, f e g, com domínios em A e B, respectivamente, então nada poderia ser afirmado a respeito de seus valores máximos.

Mais especificamente, a qualidade de um blog tem algo a ver com a satisfação do leitor. Se a satisfação se torna maior ao ler apenas uma centena de caracteres, é preciso agradá-lo também. Por isso, http://twitter.com/bfsantoro.

terça-feira, julho 21, 2009

Aviso aos navegantes 2

Pela primeira vez em 2009 (pelos meus cálculos provavelmente errados), este Autor se dignou a ir num barbeiro e aparar suas madeixas.

Tenho uma teoria de que eu fico mais engraçado com o cabelo zoado. O Jô Soares sempre conta uma história de que após um severo regime as pessoas sempre diziam que ele era mais engraçado quando era gordo e a resposta padrão dele era "se gordura fosse engraçado, era só levar um quilo de toucinho pra casa e ficar rindo o dia inteiro".

Acredito, apesar disso, na minha teoria.

A experiência

Metrô de uma grande cidade brasileira. O celular de uma gordinha toca incessantemente até que ela finalmente o encontra e atende com uma voz meio desconfiada:

- Alô ?

O interlocutor fala alguma coisa perturbadora. Ela responde ainda mais desconfiada:

- Experiência? Que tipo de experiência?

Um jovem rapaz, sentado ao lado da moça, levanta rapidamente algumas hipóteses:

1 - Ela vai participar de experimentos pioneiros no teste de uma vacina contra a gripe suína. O jovem tampa a respiração, just in case.

2 - Ela foi convidada para receber doses dilacerantes de radiação numa sessão de tortura em troca de sua filha, sequestrada há meses. O jovem pensa que terá companhia até o IPEN.

3 - Ela é a personagem da vida real que inspirou "A Mosca", é o chefe do laboratório dizendo que talvez eles tenham encontrado uma cura. O jovem lamenta ter deixado o Baygon em casa.

- Não, nunca morei no exterior mas estudei inglês por muitos anos, tenho certificado de três escolas e...

E ela desceu do metrô para negociar seu futuro emprego.

(A título de comparação: passei anos de colégio e faculdade rindo internamente a cada vez que algum professor de química dizia "solução" imaginando que era um soluço grande).

(A título de desculpas: désolé, Milousinho, pela desconectada abrupta. Às vezes é preciso fingir que trabalho).

sexta-feira, julho 17, 2009

Muitos

Segundo Georges Ifrah, os zulus e pigmeus africanos, os aranda e kamilarai da Austrália, os aborígenes das ilhas Murray e os nossos botocudos brasileiros conhecem apenas dois números: um para a unidade e outro para o par (ou seja, 1 e 2). Ainda segundo o mesmo autor, "...quando se trata de mais de 3 ou 4, alguns deles se contentam em mostrar a cabeleira, como se dissessem: 'É tão inumerável quanto os cabelos da cabeça'".

Fiz a citação pois há anos ("muitos" anos, haha) conto essa história mas nunca sei ao certo qual é o povo que faz isso. Percebe-se que o texto não deixa claro. Daqui para a frente, vou dizer que é coisa dos aranda da Austrália, por dois motivos: é um nome relativamente fácil de lembrar e um povo completamente desconhecido do grande público.

Apesar desse sistema de numeração parecer absurdo, algumas variantes dele são utilizadas mesmo em nossa sociedade pós-moderna.

http://jc.uol.com.br/canal/gripe-mundial/noticia/2009/07/17/oms-decide-parar-de-contar-casos-de-gripe-mundial-193691.php

Portanto, encerram-se oficialmente as extrapolações do número de contaminados. Peço desculpas, caros leitores.

Acho que vou ter que voltar ao antigo hobby, http://br.noticias.yahoo.com/s/14072009/40/politica-300-carros-sao-queimados-na.html

quinta-feira, julho 16, 2009

Sonho

"Filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), o empresário Fernando José Macieira Sarney foi interrogado nesta quarta-feira, 15, por pelo menos seis horas na Superintendência da Polícia Federal do Maranhão, em São Luís, no âmbito da Operação Boi Barrica."

http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,pf-indicia-filho-de-sarney-por-lavagem-de-dinheiro-e-formacao-de-quadrilha,403568,0.htm

No mundo ideal o nome do meu cargo seria "Gerente de Nomenclatura de Operações Secretas da Polícia Federal". Enquanto isso não chega, seguimos na P3D.

PS: Meu, Boi Barrica!

quarta-feira, julho 08, 2009

Aviso aos navegantes

Pela primeira vez desde 31/10/2008, este Autor está completamente sem barba.

Deixo claro aos amigos que esta mudança não deverá ter grandes reflexos em minha vida pessoal, por exemplo, não começarei a votar no PSDB só porque não pareço mais um líder sindical.

Pensando bem, na eleição passada eu votei no PFL no segundo turno e já tinha votado no PSDB no primeiro. Pensando ainda um pouco mais, minha aparência de revolucionário dos anos 80 já tinha pouca influência sobre esse tipo de decisão.

E antes que alguém venha me corrigir, eu simplesmente me recuso a chamar o PFL pelo "novo" nome de mentira deles.

quarta-feira, julho 01, 2009

7 anos

7 anos é bastante tempo, convenhamos. Porém, para alguns eventos mais lentos, também é possível argumentar que não é tanto tempo assim. Por exemplo, 7 anos de servidão não foram suficientes para Jacó convencer Labão de que era um bom partido para Raquel, serrana bela.

Vejamos alguns acontecimentos importantes do último septênio:

Em 7 anos,

- Fiz duas graduações e dois mestrados. É bem verdade que parte da primeira graduação foi a segunda, que o mestrado da segunda foi o fim da primeira e que o mestrado da primeira ainda não chegou ao fim. Muito confuso? Email para crint@poli.usp.br, 24h por dia com toda a disposição do mundo.

- Aprendi rudimentos de n idiomas, com n muito maior do que o necessário na prática e muito menor do que o suficiente para ser considerado uma Torre de Babel ambulante.

- Aprendi também que, ao contrário do que prega a cultura popular, química é matemática e física é matemática. Matemática é bruxaria.

- Perdi a fé na Humanidade 4 vezes.

- O Palmeiras foi campeão de dois torneios de segunda linha. Também é verdade que os grandes rivais do estado levaram 6 brasileiros (todos menos 2003), uma Libertadores e um Mundial. Ficam fora desse cálculo o título do Corinthians de 2002, por 2 meses de diferença, e o de logo mais, por pura premonição errada deste que vos escreve.

- Recuperei a confiança na Humanidade 3 vezes.

- O blog teve ao menos 42.835 acessos e uma mudança na cor do template, da qual nunca me recuperei plenamente.

- Curiosamente, pode-se demonstrar que 42.835 é um limite inferior para o número de fios de cabelo que perdi nestes anos.

Por outro lado, 7 anos não foram suficientes para:

- Terminar a construção da linha 4 do metrô de São Paulo.

- Acabar o segundo mandato do Lula (eu sei, mãe, eu sei).

- Ensinar à diretoria do Real Madrid que gastar 250 milhões de euros não necessariamente produz uma equipe vencedora.

- Permitir que o exército estadunidense encontrasse Osama bin Laden (tema de um post de 04/07/2002, acreditem).

- Destruir definitivamente a minha vontade de escrever besteiras por aqui.

Obrigado aos leitores por acompanhar essas histórias desconexas nos últimos 2555 dias (pois é, faltam 2 dias para o aniversário real, leitor paranóico que foi fazer a conta no Excel). Parabéns para mim e para todos nós.