sexta-feira, junho 30, 2006

A revanche

Conjectura 8.2.6: "Seja G1 um goleiro titular e G2 um goleiro reserva. Se, durante um jogo decisivo G2 for obrigado a entrar no lugar de G1, e além disso a decisão se efetuar nos pênaltis, é certo que ele saira' do anonimato para a gloria (mesmo que efêmera), salvando seu time com defesas arrojadas e/ou golpes de sorte inacreditaveis".

Contra-exemplo: Alemanha e Argentina, quartas-de-final da copa de 2006.

Quando o Abondazieri se machucou, não tive medo da hipotese de um empate alemão, afinal 8.2.6 vinha mostrando sua exatidão depois de inumeros experimentos. No entanto, dessa vez não deu certo.

Para mim, o Brasil perdeu a copa hoje, quando Cambiasso fez o que todo jogador canhoto e de técnica limitada faria numa situação dessas (um chute na esquerda do goleiro, fraco e à meia altura, ideal pra consagrar o numero 1 adversario). Claro que ainda podemos perdê-la amanhã, com 3 cabeçadas certeiras do Zizou, ou na semi, com uma finta desconcertante do Cristiano Ronaldo, ou numa final contra a Italia em que eles finalmente conseguem o tetra em cima da gente depois de se retrancar por 120 minutos (é, nos pênaltis, pra ter mais gosto de vingança pra eles), mas aposto num Brasil e Alemanha, com vitoria teutônica.

Finalmente vou por à prova minha vocação para correspondente esportivo, mando noticias do lado de la' da fronteira da Alsacia quando possivel (por falar nisso, lembrei de uma piada muito boa de um veterano daqui, "Bitte em alemão é "por favor" enquanto que em francês é "caralho" ou seja, existe um linha tênue que divide o polido do vulgar e se chama Alsacia").

Acabou!

Pois é, meus carissimos, o Autor sobreviveu ao famoso e assustador "segundo ano" da Polytechnique. Iniciado em agosto do ano passado, alternando matérias tão diferentes quanto "analisede Fourier e teoria espectral" e "quimica quantica", passando pelos classicos "relatividade restrita"e "fisica quântica e estatistica".

Junte a isso três cursos de idiomas, historia da arte, civilização grega e latina, 5 horas por semana de esporte. Olhando assim, parece que esta' saindo daqui um gênio renascentista ou um "honnête homme" do século XVIII. Acho que esta' claro para todos que eu nao aprendi tudo que podia nem me esforcei ao maximo para aproveitar completamente todas as coisas que a escola oferece. Saio, no entanto, na minha melhor fase como goleiro, com um nivel de compreensão de girias chilenas razoavel e uma capacidade de resistir psicologicamente a qualquer fracasso.

Antes de começar o primeiro ano, numa festinha qualquer os chilenos cantaram a melhor musica de protesto chilena que eu ja' ouvi. Hoje também, no churrasco de despedida, voltaram a cantar. Vou abrir uma exceção na poltica d'O Blog para citar o grande (e extinto grupo) "Los Prisioneros":

Nos dijieron cuando chicos,
jueguen a estudiar,
los hombres son hermanos y juntos deben trabajar,
oían los consejos,
los ojos en el profesor,
había tanto sol,
sobre las cabezas,
y no fue tan verdad porque esos juegos al final
terminaron para otros con laureles y futuros
y dejaron a mis amigos pateando piedras.
Unanse al baile, de los que sobran,
nadie nos va a hechar jamás
nadie nos quizo ayudar de verdad.
(...)
a otros enseñaron,
secretos que a ti no,
a otros dieron de verdad esa cosa llamada educacion,
ellos tenian esfuerzo ellos tenian dedicacion,
y para que,
para terminar bailando y pateando piedras.


A segunda parte, de outros que aprenderam coisas secretas e fora do nosso alcance combina bem demais com a nossa vida por aqui...Claro que o contexto chileno dos anos oitenta era bem diferente, o problema educacional deles é ainda mais grave que o nosso (para o leitor interessado, http://www.rionegro.com.ar/arch200606/05/o05a01.php).

Não somos tão bons quanto eles em matematica mas tenho certeza de que nos divertimos muito mais. Além disso, sabemos o que é futebol...

terça-feira, junho 27, 2006

Os homens das ciências gostam de acreditar que belas equações matematicas regem o universo e explicam todos os fenômenos. Os especialistas em futebol, no entanto, sabem que a logica e o determinismo se recusam a entrar em campo...

O Drummond que disse que "Se há um deus que regula o futebol, esse deus é sobretudo irônico e farsante", falando do Garrincha (o resto da frase é "e Garrincha foi um de seus delegados incumbidos de zombar de tudo e de todos, nos estádios.")

Eu gostava da França, simpatizava com aquele time de 98. Uma bela defesa (Thuram, Desailly, Blanc e Lizarazu, com Deschamps na cabeça de area, exigem ao menos um pouco de respeito), um exuberante Zidane. Não tinha ataque mas ganhou a copa assim mesmo, com gols de seus meias e laterais...

No entanto, quis o tal deus irônico que o tempo passasse e a minha relação com o tal pais se deteriorasse um bocado. Os goleiros continuam (Barthez e Dida, sendo que este na verdade não jogava), os laterais-direitos (se bem que o Thuram hj joga no meio), os idolos Zidane e Ronaldo que não são nem sombra do que eram ha' 8 anos...Um classico da ironia, un chef-d'oeuvre, como eles diriam.

Aos leitores que se inquietam pela minha segurança durante o jogo, aviso que estarei em Frankfurt! Sim, procurem por mim ao fundo das entrevistas da Globo, prometo estar com o belo verde esmeraldino pelas terras germânicas...

Por falar em verde, estava pensando que se existe um céu e se é o tal deus irônico supra citado que se incumbe da diversão do Paraiso, o melhor jeito possivel de passar a eternidade seria revendo o video do jogo com os franceses, uma partida dramatica, arrastada e decidida nos pênaltis. Depois de 4 cobranças corretas pra cada lado, Marcos defenderia o chute de Zidane e Evair faria o da classificação. é delirio, infelizmente, mas eu não consigo ver como a vida poderia ser melhor do que isso.

Como sempre dizia o meu pai, são-paulino so' aparece quando o time esta' bem. Existem, claro, exceções (talvez esteja passando por essa pagina o grande da Gota, longe de querer ofendê-lo, meu caro), mas lembrei disso quando pisei no aeroporto de Cumbica no ano passado no dia seguinte ao titulo da Libertadores e vi varias camisetas tricolores. Talvez eles se destaquem por contraste com os corinthianos e palmeirenses, mais passionais por definição.

Digo isso não pra provocar gratuitamente os são-paulinos, mas sim porque os franceses estão fazendo coisa parecida. Parece que a copa começou pra eles hoje. Colocaram bandeiras, estão tocando cornetas...Acho que é aquele apego meio fajuto pelo que tem algum sucesso (bater o Togo é um sucesso? discutivel...) mas eles se encheram de esperanças e ja' falam de nos eliminar e jogar a final.

Ah, como seria bom que eles ganhassem hoje. Se nos conseguirmos afastar o gnu (no lugar de zebra, pra fazer um quase trocadilho com Gana, entenderam? Tipo, gnu, zebra, esses bichos que são comida de leão. Ok, deixa pra la', valeu, Ju, pela unica risada) poderemos ter um belo adversario "bleu, blanc et rouge" nas quartas. Possivel vingança de "quatrovinte-dezoito" ou algo para ouvir pelo resto da minha permanência nas terras de Victor Hugo?

E ai, piada ou sofrimento, provocação ou tormento? Joguemos os dados e Allez les bleus, pela ultima vez.

segunda-feira, junho 26, 2006

Se me perguntassem (talvez no programa hipotético do post abaixo) qual é o melhor técnico de futebol que eu vi provavelmente hesitaria entre Luxemburgo e Telê Santana para acabar respondendo Scolari.

Futebol é um esporte de macho. Não que isso seja um comentario homofobico, é que não basta ser homem normal pra ter sucesso, ter que ter algo a mais, alguma gana maior, uma vontade profunda, um brio sem tamanho.

Se fosse possivel construir o técnico ideal a partir dessas caracteristicas precisariamos, em primeiro lugar, de um ex-zagueiro. Ex-jogador pra conhecer o negocio por dentro, zagueiro pelo motivo exposto no paragrafo anterior, no limite médio-volante. Gaucho, se possivel (argentinos e uruguaios também são aceitos). Se ele so’ tiver feito 3 gols na carreira (sendo dois contra), então temos um vencedor...

Três Copas do Brasil, uma Mercosul, duas Libertadores e uma Copa do Mundo. Ta’ bom assim ou precisa de mais alguma coisa? Ah, claro, tudo isso com aquele inconfundivel bigode e o sobrenome que não esconde a origem italiana...

Portugal não tem um belo time, assim como aquele time gremista (Dinho, Luis Carlos Goiano, Adilson, Rivarola (Deus do céu...), Arilson e a sensacional dupla Paulo Nunes e Jardel...) ou o do Palmeiras na segunda Libertadores (Pena, Galeano, Asprilla, Roque Junior...) ou o bizarro Criciuma de Jairo Lenzi no começo dos anos 90 também não tinham...

Um grande amigo costumava dizer “Violência não o caralho” e eu acho essa formula genial, ainda mais no futebol. Um jogo de copa do mundo com 20 cartões é de encher os olhos, ainda mais pela briga com os holandeses. Deco subiu enormemente no meu conceito pela bordoada que tentou acertar no Heitinga, é isso ai’ mesmo. Não joga contra os ingleses, os reis da bichice e da empafia, do “vamos segurar o 1 a 0 para não desgastarmos nossas unhas do pé pintadas de vermelho-escarlate”.

Serei lusitano desde criancinha nesse fim de semana. A vitoria chegara.

Quem sabe não é dada a hora do retorno de Dom Sebastião?

sexta-feira, junho 23, 2006

A melhor imagem de copa do mundo de todos os tempos


Sem comparar com o fantastico ultimo gol da seleção de 70 ou com o gol de la mano de Diós, por favor.

quinta-feira, junho 22, 2006

10/07/2030

Transcrição de um hipotético programa de mesa redonda do futuro:

- Então, Bruno, qual jogador tem o recorde de gols marcados em copas do Mundo?
-Olha, Jorge (um belo nome pra comentarista hipotético), tai' uma coisa que eu nunca vou esquecer. Eu em Paris, vestido com mais uma duzia de amigos vestidos com uniforme militar,para na frente de um bar cheio de brasileiros. Brasileiro assistindo futebol sempre fica meio bobo (talvez seja melhor não dizer isso ao vivo), e brasileiro no exterior é bem bobo. Não junte os dois fatores a umas cervejas além da conta e um inicio de goleada no Japão.

Em meio a gritos de "Um dois três, quatro cinco mil, queremos que o Zico va' pra puta que o pariu" fomos recebidos com flashs de todos os lados e gritos de surpresa, "olha, eles são brasileiros também". Algumas pessoas mais empolgadas vêm perguntar porque toda aquela pompa, outros pedem pra tirar fotos com a gente (parênteses no texto para transmitir um recado: sim, Tiago, o projeto de tirar foto com turista na frente do Arco do Triunfo tem tudo pra dar certo. Fim do parênteses, de volta ao delirio).

E no meio desse clima bizarro Ronaldo, o Gordo, aquele que jogou junto com o Ronaldinho Gaucho Dentuço mas antes do Ronaldinho Gaucho Careca e bem antes do Ronaldinho Gaucho Careca Canhoto, domina a bola na entrada da area japonesa. O cidadão pesava mais do que eu na época (risos na mesa...acho que os meus 140 kg que ocupam parte da mesa redonda não ajudam muito) mas limpou um beque e bateu no canto.

Nunca gostei muito do Ronaldo, pra mim ele é produto de laboratorio...O ganho de massa muscular dele não é normal, so' pode ser bomba. Em todo caso, 14 gols em três copas é digno de nota e de aplausos, mesmo se aquela partida desastrosa dele no vexame contra Gana ajudou a encerrar precipitadamente a sua carreira...

(No fundo, o que eu preciso é de um programa sozinho pra contar minhas historias, não de um emprego em mesa redondo. Em todo caso, parabéns ao Gordo (ele ta' pesando mais de 90, yes!) e boa sorte aos ganeses...)

Prova de francês

Pergunta: você acha que a sociedade moderna é capaz de criar novos mitos? Dê exemplos.

Resposta: Depende do sentido que damos ao termo "mito". Se for considerado como historia com função de explicar algum fenomeno, então não existem mais mitos porque a ciência se encarrega disso. Porém, no sentido de historia exagerada ainda é plenamente possivel, como comprova a seleção francesa de futebol.

(Escrever isso numa prova não tem preço...)

terça-feira, junho 20, 2006

Uma das idéias originais de ter vindo para a Polytechnique era estar mais próximo da ciência de verdade, daqueles caras incríveis que aparecem na televisão dizendo coisas triviais sobre assuntos babacas, afinal eles são gênios em seus campos de atuação mas ninguém entenderia uma palavra se eles falassem das pesquisas de ponta que vêm desenvolvendo...

No meu ano mudaram o professor de Economia, o antigo era um vencedor do Nobel. "Grande bosta", dirá o leitor cínico, "Economia não merece respeito". Concordo. Como isso aqui é um centro de excelência e aprendizado de nivel incomparável (as visitas de pessoas tentando descobrir como vir parar aqui vêm se multiplicando, vou fazer um merchandising pra parecer que a vida aqui é boa, hehe), outra oportunidade ia surgir.

Por outro lado, quando o seu Nobel tava pra morrer e meio preocupado com aquelas explosões que pipocavam pelo mundo inteiro, resolveu doar a sua fortuna pra pessoas que fizessem boas contribuições para a humanidade. Provar um teorema de topologia não é exatamente um bem, eu diria talvez até o contrário pensando nos alunos que vão ter que decifrar o tal teorema depois mas é melhor parar com a campanha anti-matemática senão corro o risco de ficar sem bixos...

Como os matemáticos também tem direito ao orgulho, criaram alguns prêmios próprios, meio diferentes do Nobel mas comparáveis dentro de uma certa escala. Talvez um dos mais importantes desses seja a tal Medalha Fields que eu vim a conhecer apenas chegando aqui (respire aliviado, leitor inculto, você não é o único...nem a Wikipedia em português tem um verbete sobre isso). A cada 4 anos os maiores craques do mundo se reunem para premiar jovens talentosos com menos de 40 anos...Não é uma Copa do mundo mas parece, ainda mais que as entregas são realmente em anos de copa...

Todo esse preâmbulo desnecessario pra dizer que eu tive aula com um dos vencedores de 94 (acabooouuu! é tetraaaa, é tetraaaaa! para quem não entendeu a piada, http://www.youtube.com/watch?v=EzW-KiDt6DA). Pierre-Louis Lions é o nome da fera.

Talvez seja falta de pré-requisito meu, talvez seja o sono inerente a uma aula às oito da manhã. O cidadão tentava ser engraçado, às vezes até conseguia porém na maior parte do tempo ele se limitava a copiar a apostila que nem foi escrita por ele.

Fica a dúvida se o topo da humanidade não é tão brilhante assim ou se a minha situação pode ser comparada a uma tentativa frustrada do Roberto Carlos de ensinar como se cobrar faltas a um indiano que nunca assistiu futebol...

domingo, junho 18, 2006

Oh la la

Entre as lendas bastante reais sobre a vida na França podemos destacar a densidade do metrô de Paris ("ande 500m numa direção qualquer e encontre uma estação"), o intervalo relativamente grande entre um banho e outro e as expressões meio gays que eles usam na vida normal, em particular o maldito "oh la la".

Segundo o dicionario, "marca de que o emissor sente compaixão em relação a alguém, que ele lastima algo". Sim, é uma expressão dicionarizada e tudo. E com variantes, como o ouh la la (que soa como ulalal e nao olala) e o indignado oh la la la la e o temivel oh la la la la la la. Ridiculo, eles adiconam tantos pares de "la" quanto for necessario. Num jogo de futebol isso fica ainda mais tosco, imaginem o Ronaldo perdendo um pênalti na final da copa e o Galvão "UH LA LA! Agüenta coração!". Não da'.

Eles também gostam de dar uns gritos meio afeminados em situção de gol. Atacante invade a area sozinho, narrador para de descrever o lance e berra "aahhhhh, ouuuuuhhh", como um bezerro sendo sacrificado. O cara perde o gol, "oh la la".

Uh la la la la, onde eu vim parar...

sábado, junho 17, 2006

Do tempo que a França marcava gols em copa do mundo...

O texto prometido ha' um tempo atras. Valeu, Ju, irmã/escrava so' tem uma, hehe.

A favor e contra

Faz parte do folclore dos jornalistas, na sua eterna luta com os prazos de fechamento, a matéria feita antes, que vale em qualquer eventualidade. Considerações sobre o nada, à prova de qualquer desmentido dos fatos. Outro recurso é fazer duas matérias, uma prevendo uma coisa e outra prevendo o seu oposto. Este é perigoso, pois há sempre o risco de haver confusão e sair a matérias errada. No caso do futebol, a matéria dupla - por que ganhamos e por que perdemos - requer uma dose maior de sangue-frio, para não dizer cinismo, jornalístico. É conhecida a história daquele editor que se lembrou em cima da hora que no dia seguinte era Páscoa e o jornal precisava se referir à data. Entrou na redação e pediu a um repórter:

- Escreve aí cinco linhas sobre o martírio de Jesus Cristo.

E o repórter:

- A favor ou contra?

Escrever a favor ou contra Zagalo e a seleção de acordo com o resultado da final já seria uma injustiça, escrever a favor e contra antes e publicar a tese justificada pelo resultado seria uma calhordice. Afinal, deve-se ter convicções firmes, independentes da sua conveniência, inclusive sobre o martírio de Jeses Cristo. Nem a vitória redimiria completamente Zagalo das suas teimosias nem a derrota o condena completamente. Zagalo caiu abraçado às suas convicções. Não deixa de haver uma certa grandeza nisso.

Poderia, isto sim, ter-se previsto dois scénarios, como gostam de dizer os franceses, para a final, cada um com um personagem diferente, Ronaldo e Zidane. Por que ganhamos? Porque Ronaldo finalmente jogou tudo o que sabe - ele que jogando metade do que pode já era um dos jogadores mais importantes do Brasil - e foi o nome do jogo da Copa. Por que perdemos? Porque Zidane, e não Ronaldo, foi o nome do jogo e finalmente o herói do dia e do título. A grande noite de Ronaldo e suas consequências eram mais fáceis de prever. Do lado da França o herói podia ser qualquer um. Mas como o scénario da Copa acabou sendo perfeito para os franceses, nada mais adequado e dramaticamente certo do que o seu jogador favorito ser o jogador decisivo.

Preciso confessar que escrevi parte deste texto, até o Jesus Cristo, antes de começar o jogo. É um exemplo do uso do nada para ganhar tempo. Poderia ter escrito antes sobre o triunfo de Ronaldo ou o seu fracasso e mandado o texto que encaixasse com o resultado. O que eu nunca poderia escrever era qualquer coisa que entecipasse três a zero para a França. Três a zero, nem no scénario do francês mais delirante.

(Luis Fernando Verissimo)

Você percebe que alguma coisa está muito errada com a sua vida quando a nota mais alta que você tirou no ano foi em História da Arte, com aquele tema tosquíssimo postado há alguns meses...

sexta-feira, junho 16, 2006

Uma confissão singela

Tenho medo de lojas que consertam eletrodomésticos.

quarta-feira, junho 14, 2006

Didá; Cafu, Lutchiô, Juan (com J à la espanhola) e Robertô Carlos; Emêrson, Zê Robertô, Kaká e Ronaldinhô; Ronaldô (Robinhô) e Adrianô. (Lembrando que todos os "r" são longos, naquele tipo de sotaque de oceanografo francês que foi fazer turismo sexual no Maranhão e acabou ficando no Brasil (não, não eu fiz essa piada so' pra receber visitas de uns caras procurando "turismo sexual Maranhão blog") e que os "l" são pronunciados como tal, e não como "u".)

Um tanto quanto estranho assistir a um jogo do Brasil em que o narrador, não contente em falar os nomes dos jogadores dessa maneira, ainda confundia o Adriano com o Ronaldo, achava que o Robinho ia jogar na lateral-esquerda, chamava um beque croata de Roberto Carlos (sim, eu tenho testemunhas disso!) e principalmente não se matava de gritar à toa.

Triste, meus caros, isso dá saudades do Galvão.

Começamos mal mas acho pelo menos estamos melhor que Zidãni, Enrri, Uiltórdi e companhia...

terça-feira, junho 13, 2006

E a CBF faz as pazes com um antigo aliado.

Claro que isso pode trazer mais prejuizo que vantagem para a população brasileira...

Esperemos.

segunda-feira, junho 12, 2006

Niko Kranjcar, o nome que não será esquecido.

Ou não.

(Eu penso em vocês, caros leitores)

domingo, junho 11, 2006

O leitor começa a se inquietar...Terceiro dia de copa e nenhum comentário n'O Blog. Teria o Autor sucumbido às 12 horas de futebol diárias?

Na verdade, não (ou melhor, ainda não). Não posso me contentar em comentar uns jogos aleatórios porque isso o público pode encontrar
em qualquer lugar. É preciso falar alguma coisa surpreendente, difenrente, cativante. Felizmente isso não vai ser muito dificil.

Ao invés de comentar a copa me limito nesses primeiros dias a contar como os franceses cobrem tal evento. Em primeiro lugar me causou um tremendo espanto ver Frank Leboeuf e Cristophe Dugarry comentando na TV. São dois ex-jogadores, coadjuvantes em 98. Mais ou menos como se Aldair e Raí estivessem na Globo. Para os saudosistas mais velhos (ou seja, meu pai), parece que tem um jornal da noite com o Giresse! Só falta o Tigana...

Isso é tudo muito bonito mas já sabemos que a vida na França tem umas peculiaridades escondidas inexplicáveis. A primeira, terrível e que eu já tinha percebido antes, é que eles não gritam gol. Claro, dirá o leitor rigoroso, em francês é "but", não gol; Verdade, mas eles não dizem "buuuuuuuuuuttt". Nem "but". Nem "é, entrou, que pena". Nada. No fundo, eu não sei o que eles ficam falando quando é gol, em geral eu estou gritando um "goooooooollll" na minha cabeça pra me convencer que foi gol.

Em segundo lugar, eles não passam "melhores momentos". Ridículo, são 15 minutos de propaganda sem parar.

Não para por ai mas a Holanda vai começar a jogar daqui a pouco e eu tenho que ver...

sexta-feira, junho 09, 2006

Ah, o dia de hoje…

A longevidade d’O Blog é algo realmente digno de nota, por conta disso estive aqui ao lado de vocês durante quase todos os grandes eventos periódicos da nossa sociedade. Hoje posso dar baixa no penúltimo, porém infelizmente o Halley ainda vai demorar um pouquinho pra voltar e a lista continua incompleta.

Em 94 perdi a abertura (Alemanha e Bolívia, 1 a 0, Etcheverry expulso, um clássico alternativo...) porque estava no colégio. Em 98 (2 a 1 na Escócia, gol de César Sampaio e tudo) fomos liberados pra ver a primeira partida da seleção. Em 2002 foi feriado, Corpus Christi, acho, assim pude ver no sossego do sofá da minha casa (que estava na parede da porta da cozinha, não na da porta da sala, tenho certeza absoluta) aqueles bizarros senegaleses (Papa Boupa-Diop, El Hadji Diouf, Khalilou Fadiga e companhia limitada) baterem os franchucos.

Perderei aquelas cerimônias idiotas e que parecem escola de samba de quinta categoria que precedem a primeira partida, mas isso não importa. Daqui a poucas horas o mundo se refaz a pergunta de quem é o campeão do mundo. Os melhores somos nós, isso é um dogma até para os que não sabem ainda se vão torcer pela amarelinha, mas daí a levantar a taça a diferença é enorme.

Quem sabe onde estaremos em 2010, antes de África do Sul e Finlândia? Na Cidade do Cabo, com uma credencial de jornalista no peito? Em São Paulo, num canto de universidade, matando aula do 8° ano? Em alguma faculdade perdida no mundo, fazendo um doutorado? Num rincão de nosso belo país, trabalhando pelo futuro da nação? Sozinho numa ilha do Pacifico, convencido de que o futebol não leva a nada e a verdade está alhures?

Um mês de dramas, sofrimentos, injustiças, vitórias edificantes e momentos imortais se aproxima... Aproveitemos, meus caros, e que vença o melhor.

Não, esse final é muito chavão. Que vença aquele que lutar mais (muito gaúcho...). Que vença o mais capaz (também não sou nenhum entusiasta da meritocracia). Que vença um país oprimido e roubado pelas potências tirânicas neo-liberais que ...(não, já abandonei meu marxismo em alguma curva por aí).

Ok, que vença qualquer um menos a França, beleza?

quinta-feira, junho 08, 2006

O futuro

Trimestre que vem: Espectroscopia orgânica, Síntese orgânica e biosíntese, Química organometálica e catálise e Química da matéria condensada.

No ultimo trimestre, Química orgânica e organometálica avançada, Química dos polímeros, Modelização em ciências moleculares e um projeto bibliográfico sobre as "fronteiras da química".

O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
(...)
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.

(Vocabulário útil:
do.mi.nó sm (da expressão em lat benedicamus domino, louvemos ao Senhor)
1 Disfarce carnavalesco, formado de uma longa túnica com capuz e mangas.)



quarta-feira, junho 07, 2006

Fim da epopéia

Parti no domingo de manhã para Roland Garros, sem ter dormido direito. Como sou brasileiro e o verão europeu nem começou, não esquentei a cabeça com coisas inuteis como boné, oculos de sol, protetor solar...Na verdade eu nem tenho nada disso por aqui, mas poderia ter feito um esforço. Ou melhor, deveria.

Esqueci completamente que quando assistia o torneio francês costumava fazer um sol da porra e que as pessoas se escondiam dele.

Pois bem, queimei os braços, a testa, o pescoço...Fiquei parecendo um alemão idiota que vai pra praia no Brasil e esquece que o Sol queima.

Do ponto de vista esportivo não foi nada do outro mundo. Vi a Venus Williams de costas...A mulher é imensa. Assiti um jogo de duplas com o Bjorkman e o Mirnyi, nada mal pra quem acompanhava tênis uns 5 anos atras...

Sai do torneio queimado e com a sensação que podia ter sido mais divertido se eu tivesse ingresso para os grandes jogos da quadra central, mas deu pra sentir o gostinho e poder dar um tique na casinha ao lado do sonho de infância n° 357.

segunda-feira, junho 05, 2006

No sabado foi realizado o "Point Gamma", a maior festa estudantil francesa. Não lembro de ter comentado sobre isso aqui, mas eu fui designado responsavel do bar latino, com todos os problemas e nenhum beneficio que isso traz.

Pois bem, na sexta à noite seria necessario que alguém do bar ficasse como vigia noturno, cuidando dos equipamentos de som e iluminação...E toca o pamonha aqui a ficar la', sentado, esperando o tempo passar...

Felizmente varias outras pessoas se compadeceram do meu problema e ficaram la' pra fazer companhia. Aguentei até as 3 e meia da manhã (tava frio pra cacete...) depois vim dormir em casa. Fui acordado pelo Sebastian Flores, o chileno que me delegou a responsabilidade.

Passei o resto da tarde ajudando a montar o bar. Como aconteceram uns problemas com bebida aqui na escola, não tinhamos licença pra vender nada muito forte. Pra piorar, foi a organização da festa que decidiu nossas bebidas. Assim, preparamos um coquetel com vinho branco, pedaços de limão e suco de laranja. Horrivel. Azedo. Medonho. Cada um do bar não acreditava que estivesse tão ruim e tentava dar uma golada pra experimentar, fazendo sempre a mesma cara de nojo. Descobrimos que faltava açucar e champanhe pra completar a bebida.

Segunda a definição de engenharia quimica, o grande problema é passar da pequena para a grande escala, e isso era exatamente o nosso problema. Imagine, caro leitor, que vc precisa misturar 3 quilos de açucar em 20 litros de bebida, colocados numa bombona bem grande (de uns vinte litros, digamos). Além de pseudo-engenheiro, eu sou brasileiro e arranjo sempre uma solução criativa.

Lembro que do lado de fora do bar tinhamos uma vassoura ("ah não, ele não fez isso"). Sim, meu caro leitor que esta' com nojo, eu lavei a vassoura e usei o cabo pra misturar...Porquissimo, concordo, so' que era o unico jeito de mexer até o fundo. Não sei se era o efeito da degustação anterior, mas ficou até tomavel. Tinhamos também uma mistura de vinho tinto barato com Coca-cola da Schweppes, para dar uma noção do gosto digo apenas que uma espanhola "confundiu" o nome certo (calimotxo) com pesadelo, em francês (cauchemar).

Trabalhei umas boas horas, como um cão e sem a menor chance de beber de graça por absoluta falta de qualidade dos drinques. Teve gente que gostou, teve uns que largaram o copo sobre o balcão. Nenhum bêbado veio criar caso (aconteceu isso na noite latina, não foi divertido...), foi quase um sucesso.

Dormi uma hora e voltei pra desmontar o bar. Claro que às 5 da manhã, quando a festa acabou, o nivel do local estava trash. Os bêbados que tinham dado trégua durante a noite resolveram surgir nessa hora, em especial uns idiotas que compraram tiquetes (é tipo festa junina de colégio, tem que comprar os bilhetinhos pra trocar nas barracas) e não gastaram tudo.

A policia ajudou a evacuar o local, parecia destruição depois de guerra. Copos plasticos espalhados por todo lugar, sujeira, detritos, restos de tudo que você pode imaginar. Trabalhei até as sete e meia da manhã, carregando caixas de bebida de volta pro estoque, limpando o chão, bebendo resto de suco de maracuja'...

Dormi mais duas horas porque o domingo tb não seria dos mais tranquilos...

(Fazer folhetim não é legal para o leitor, eu sei, mas a historia é muito grande e se encadeia naturalmente, não tinha outro jeito.)

domingo, junho 04, 2006

Ainda vivo (pero no mucho)

Alguns leitores começam a se inquietar com o meu sumiço. Eu, alias, gostaria muito de ter o tempo necessario pra lembrar que eu não tive tempo de falar com as pessoas nos ultimos dias. Em resumo, a epopéia começa na sexta de manhã quando tive uma aula de reposição de laboratorio que deveria durar apenas umas horinhas até o almoço.

Nosso instrutor além de chegar atrasado ainda queria que ficassemos fingindo que tinha algo pra fazer até as quatro da tarde. Voltamos do almoço, esperamos por 30 minutos e nada do professor; decidimos, então, matar solenemente o resto da aula, o Arthur iria ajudar a terminar o bar latino da festa de sabado (vide post acima se você esta' lendo isso depois do dia 5) e eu...

Ah, eu iria realizar um dos grandes sonhos da minha infância televina: Rolando Garros, aqui vou eu.

Sou dos que acreditam que o tênis so' pode ser realmente bem jogado na terra batida e nada melhor para isso que a cidade-luz, o centro do mundo, o Panteon do saibro, ou seja, o quintal aqui da minha casa. Na pratica Roland Garros fica meio longe da Polytechnique, quase uma hora de trem e metrô mas é muito mais perto do que São Paulo, por obvio.

Depois de ficar meio fascinado com o lugar tentei entrar na quadra em que jogava uma das irmãs Willians (vide dois posts acima) mas o meu bilhete dava acesso apenas às quadras anexas e não às três principais...Sem problemas, andei para uma quadra meio perdida e me juntei a uns hermanos para torcer para não sei qual argentino contra um holandês. Curioso que umas 1000 pessoas estavam la' vestidas de laranja e a torcida portenha era um casal de meia idade, dois jovens com chapéus ridiculos e camiseta do Maradona e eu. O holandês estava bem melhor e os argentinos partiram, para outra quadra. Segui os quase conterrâneos.

Na quadra 2 o Nalbandian (terceiro do mundo) jogaria contra um russo qualquer. Depois de uma hora e um set perdidos na fila consegui entrar e ficar preso num cantinho da quadra (fotos no fotolog a partir de segunda à noite, aguardem). A torcida francesa era toda pelo russo, a milonga do argentino era grande demais para atrair simpatia dos não iniciados.

Depois de perder 2 sets, a cabeça e umas 3 raquetes o argentino acertou a mão e conseguiu uma linda virada, heroica, de raça. Sim, eu simpatizo com atletas argentinos, caro leitor preconceituoso. Pelé foi melhor que o Maradona, isso eu não questiono, mas defendo a tese de que nossos dois paises unidos seriam uma potência esportiva inigualavel. Sonhos bolivarianos à parte, voltei para a X contente de ter gritado e aplaudido no centro sagrado do tênis francês.

Porém, o final de semana mal começava...

quinta-feira, junho 01, 2006

Confirmando velhas teorias ou afinal de contas vir pra França não foi tão inútil

Minha primeira professora de cálculo disse certa vez que uma amiga dela, matemática, foi para Grécia e não encontrou muita dificuldade em ler as placas na rua só por conta dos anos de prática com o alfabeto deles...Achava meio mitológico mas depois de alguns anos olhando pra lousa e pensando "porra, mas isso é grego para mim" me convenci que um aluno médio de exatas consegue deduzir umas coisinhas de tão bizarro idioma.

Como isso aqui não é um curso de engenharia de verdade, as quintas-feiras deste semestre foram ocupadas por "civilização grega e latina". Hoje nosso querido professor resolveu dar uma aula diferente, divertida e ensinar umas cositas de grego para nos. Entre um esforço em vão para deduzir o significado de um radical e outro, a grande revelação: a letra chama "omega" porque quer dizer "o-grande", afinal de contas existe um "omicron" (o-pequeno). Podia ser "ozinho" e "ozão", acho que ficaria melhor. Existe também o "upsilon" que deu origem ao nosso "ipsilon" e justifica os bizarros nomes do y em outras linguas (variantes de "i-grego" em espanhol e francês, ao menos). O upsilon e o omicron, não usados em matemática, resolveram metade das minhas dúvidas quanto ao idioma.

Eu já estava contente o bastante com umas palavras básicas mas o professor resolveu nos mostrar uns trechos do Homero, no original...é o velho método francês de aprendizado não-linear ("dado que o produto de um número par com um impar é par, prove que o teorema de Fermat é verdadeiro para qualquer n natural").

Tirando esses exageros foi divertido e ao final do curso começou a tocar uma música do pessoal que está preparando a festa de sábado (voltarei ao assunto em breve); o professor comentou algo sobre Homero, aprender grego, a música ao fundo, uma outra coisa que eu esqueci e soltou um "Quel scénario!".

Explicação: faz uns belos 7 anos que ouvi isso pela primeira vez, ou melhor, li. Pra variar, é um texto Verissimo, desta feita sobre os narradores franceses durante a copa de 98, eles usariam sempre essa expressão cujo significado é mais ou menos intuitivo. Até hoje eu achava que ela fazia parte do inconsciente coletivo brasileiro projetado no francês, ou seja, aquelas frases que a gente acredita que existem mas que nenhum "nativo" realmente fala.

Para destruir um pouco o "scénario" (lê-se "cenariô", fazendo cara de bunda) eu não encontrei o texto na internet. Está no "Eterna privação do zagueiro absoluta", uma alma caridosa (sim, Juliana, eu tô falando com você) poderia digitar e me enviar, que tal? Evitaríamos assim esse anti-clímax...