terça-feira, agosto 31, 2010

Itaquerão

Como se sabe, o Corinthians anunciou a construção de seu estádio para, talvez, sediar a abertura da Copa. Não tenho absolutamente nada contra o conceito dessa obra, afinal de contas a única coisa que eu realmente perderia seria a piada de que o Corinthians não tem estádio, o que é apenas uma meia verdade já que a Fazendinha existe há décadas.

Contudo, não gostaria de ver o dinheiro que eu pago em impostos indo parar na construção de um elefante branco. Em nota oficial do Corinthians, podemos destacar os seguintes trechos:

"Será assinado hoje um pré-contrato com a Organização Odebrecht para a construção de nosso estádio, em Itaquera, com um valor de referência de R$ 335 milhões, com a capacidade para receber 48 mil pessoas."

"
Um estudo de demanda, conduzido no primeiro semestre deste ano, revelou uma conclusão nada intuitiva: a perda de arrecadação decorrente de se localizar nosso estádio em Itaquera, em vez do Pacaembu, seria de menos de 20 por cento"

"O estudo de demanda revelava, ademais, que o estádio teria condições de se pagar em menos de três anos, já que a arrecadação total projetada será superior a cem milhões de reais anuais, enquanto o custo total do estádio – dimensionado para até 50 mil espectadores – ficaria perto de trezentos milhões de reais."

Desconfio de valores numéricos por profissão, por hobby e por dever cívico. 350 milhões me parece um custo meio baixo para um estádio novo (na África do Sul o chique estádio de Port Elizabeth , com capacidade para 48000 pessoas, não saiu por menos de 475 milhões de reais) mas aceitemos esse valor.

Por outro lado, dizer que o estádio se pagará em 3 (TRÊS) anos é má-fé ou erro de cálculo. Vejamos as médias de público nos últimos 2 anos:

3 coisas são claras baseando-se nesses dados:

- O povo prefere ir a jogos decisivos, de torneios "que valem mais". A diretoria aproveita para enfiar a faca nos ingressos e as disputas de tiro curto (Copa do Brasil e Libertadores) se tornam bem rentáveis.

- O torcedor não tem dinheiro infinito. Se ele quer ir à Libertadores, deixará de ir ao Paulistão.

- A média em todos os jogos está longe da capacidade máxima do Pacaembu (37000). Não há uma "demanda reprimida" em todos jogos, em 2 anos o Pacaembu lotou apenas 5 vezes.

Assim, é óbvio que construir um estádio para 48 mil pessoas não significa que ele estará cheio toda semana mesmo cobrando-se um absurdo pelos ingressos, não há demanda para isso. Para piorar, o próprio estudo do Corinthians aponta uma queda no público devido à mudança para Itaquera.

O que eu não consigo entender é da onde pode ter surgido essa idéia de 100 milhões de receita por ano. Em média o Corinthians disputa uns 35 jogos em seus domínios por ano. Para conseguir uma receita desse valor, seria preciso ter casa cheia sempre mesmo com um ingresso médio da ordem de R$60. Além disso, há uma enorme diferença entre receita e lucro. Será que os autores do estudo corinthiano não consideraram que a despesa em um simples jogo, mesmo sem pagar aluguel à prefeitura, fica em torno de R$200.000, pelo menos?

Fiz então uma análise de fluxo de caixa. Considerei uma despesa de 335 milhões de reais dividida em 3 partes iguais. Admiti que a receita com ingressos seria 25% maior do que num ano bom (de Libertadores) como 2010, o que daria uma entrada de quase R$40 milhões no primeiro ano de vida útil do estádio. Estou sendo simpático e supondo que o torcedor vai comparecer e pagar caro para conhecer a nova casa. Por outro lado, supus que a despesa por jogo seria de R$250.000.

Somei ainda R$7 milhões por ano de naming rights, já que os contratos na Europa tem girado em torno de 6 milhões de euros/ano (Emirates, Allianz Arena). Com isso, no primeiro ano o estádio traria um lucro de R$37 milhões .

Usando uma taxa de juros de 7% ao ano para trazer tudo a valor presente, temos que o estádio se pagaria em 17 anos. Nenhuma maravilha de investimento, portanto.


Em resumo: estão mentindo para você, Fiel Torcedor. E estão nos roubando, amigo brasileiro.

PS: aceito críticas à metodologia empregada, ao valor da taxa de juros e também aceito sugestões para estimar quanto seria possível lucrar com shows, estacionamento e outros eventos.

terça-feira, agosto 24, 2010

Matlab

Há anos eu penso em fazer algum joguinho divertido em Matlab. Por algum tempo a idéia era fazer uma versão de "Tiro ou mosca", um jogo inútil de adivinhação cujo único registro na internet é um post meu mesmo.

Pensei em finalmente implementar o jogo da velha n-dimensional mas acabei desistindo.

Hoje encontrei algo que recuperou as minhas esperanças: Tetris no Matlab!

Só baixando para conferir que realmente é possível: http://www.mathworks.com/matlabcentral/fileexchange/5394-matlab-tetris

Meus sinceros reconhecimentos ao gênio que fez isso.

Versões

"Vivemos cercados pelas nossas alternativas, pelo que podíamos ter sido.

Ah, se apenas tivéssemos acertado aquele número (unzinho e eu ganhava a sena acumulada), topado aquele emprego, completado aquele curso, chegado antes, chegado depois, dito sim, dito não, ido para Londrina, casado com a Doralice, feito aquele teste…

Agora mesmo neste bar imaginário em que estou bebendo para esquecer o que não fiz – aliás, o nome do bar é Imaginário – sentou um cara do meu lado direito e se apresentou:

- Eu sou você, se tivesse feito aquele teste no Botafogo

E ele tem mesmo a minha idade e a minha cara. E o mesmo desconsolo.

- Por que? Sua vida não foi melhor do que a minha?

- Durante um certo tempo, foi. Cheguei a titular. Cheguei a seleção. Fiz um grande contrato. Levava uma grande vida. Até que um dia..

- Eu sei, eu sei… disse alguém sentado ao lado dele.

Olhamos para o intrometido… Tinha a nossa idade e a nossa cara e não parecia mais feliz do que nós. Ele continuou:

- Você hesitou entre sair e não sair do gol. Não saiu, levou o único gol do jogo, caiu em desgraça, largou o futebol e foi ser um medíocre propagandista.

- Como é que você sabe?

- Eu sou você, se tivesse saído do gol. Não só peguei a bola como me mandei para o ataque com tanta perfeição que fizemos o gol da vitória. Fui considerado o herói do jogo. No jogo seguinte, hesitei entre me atirar nos pés de um atacante e não me atirar. Como era um herói, me tirei… Levei um chute na cabeça. Não pude ser mais nada. Nem propagandista. Ganho uma miséria do INSS e só faço isto: bebo e me queixo da vida. Se não tivesse ido nos pés do atacante…

Ele chutaria para fora. Quem falou foi o outro sósia nosso, ao lado dele, que em seguida se apresentou.

- Eu sou você se não tivesse ido naquela bola. Não faria diferença. Não seria gol. Minha carreira continuou. Fiquei cada vez mais famoso, e agora com fama de sortudo também. Fui vendido para o futebol europeu, por uma fábula. O primeiro goleiro brasileiro a ir jogar na Europa. Embarquei com festa no Rio…

- E o que aconteceu? perguntamos os três em uníssono.

- Lembra aquele avião da VARIG que caiu na chegada em Paris?

- Você…

- Morri com 28 anos.

- Bem que tínhamos notado sua palidez.

- Pensando bem, foi melhor não fazer aquele teste no Botafogo…

- E ter levado o chute na cabeça…

- Foi melhor, continuou, ter ido fazer o concurso para o serviço público naquele dia. Ah, se eu tivesse passado…

- Você deve estar brincando.

Disse alguém sentado a minha esquerda. Tinha a minha cara, mas parecia mais velho e desanimado.

- Quem é você?

- Eu sou você, se tivesse entrado para o serviço público.

Vi que todas as banquetas do bar à esquerda dele estavam ocupadas por versões de mim no serviço público, uma mais desiludida do que a outra. As conseqüências de anos de decisões erradas, alianças fracassadas, pequenas traições, promoções negadas e frustração. Olhei em volta. Eu lotava o bar. Todas as mesas estavam ocupadas por minhas alternativas e nenhuma parecia estar contente. Comentei com o barman que, no fim, quem estava com o melhor aspecto, ali, era eu mesmo. O barman fez que sim com a cabeça, tristemente. Só então notei que ele também tinha a minha cara, só com mais rugas.

- Quem é você?perguntei.

- Eu sou você, se tivesse casado com a Doralice.

- E..?

Ele não respondeu. Só fez um sinal, com o dedão virado para baixo…"

(Luis Fernando Verissimo - o verdadeiro, não o de correntes da internet)

Por algum tempo entre eu ser aprovado na seleção da Polytechnique e a minha efetiva chegada ao terrítório francês, temi que meu avião pudesse sofrer um acidente fatal. Como a existência deste texto comprova, isso não aconteceu. Deixei de acreditar que esta crônica fosse profeta ao pé da letra.

No entanto, passados alguns anos, existe uma chance relativamente grande de que eu tenha um concurso público no mesmo dia de um jogo decisivo.

Acho melhor não casar com a Doralice.

quarta-feira, agosto 18, 2010

Mea Culpa

10 de janeiro de 2000. Corinthians e Al Nasr jogam pelo Mundial da FIFA no Morumbi. Uma vitória por 2 gols daria a classificação à final aos alvi-negros. Não me lembro do primeiro gol corinthiano. Lembro, no entanto, que comecei a ter um desarranjo intestinal no início do segundo tempo.

Instintivamente, sabia que se eu fosse ao banheiro o Corinthians marcaria o gol da classificação. Eu (e os árabes) aguentamos bravamente a pressão. Aos 35 minutos, no entanto, não resisti. Mal fechei a porta e ouvi os gritos de comemoração. O jogo acabou 2 a 0, o Corinthians fez a final contra o Vasco e foi campeão por culpa minha e do Edmundo (que perdeu um pênalti), nessa ordem.

Desde então aprendi que o meu sofrimento físico pode alterar o rumo de eventos esportivos.

Hoje eu assistia à final da Libertadores torcendo bastante por uma vitória mexicana. Afinal, o Chivas só disputou essa edição por ter sido excluído em 2009 no começo da gripe suína, quando ninguém tinha coragem de ir para o México. Além disso, eles conseguiriam ser o primeiro campeão continental sem nem pertencer ao continente (subcontinental e subcontinente, eu sei).

Tudo ia bem até o começo do segundo tempo, 1 a 0 Chivas, jogo indo para a prorrogação. O frio paulistano começou a apertar. Insntintivamente, sabia que se eu pegasse uma blusa o Inter conseguriria reverter o placar. Não resisti. Mal cheguei em meu quarto e ouvi os gritos de comemoração do Galvão, já que não tenho vizinhos gaúchos.

Fica novamente a lição: entre o sofrimento ou o título para um rival, prefira o sofrimento.

terça-feira, agosto 10, 2010

Ah, a vida acadêmica

Manchete da notícia: "Estudo liga bombinha para asma a risco de câncer de próstata".

Resultado "estatístico": "Os pesquisadores descobriram que homens que sofrem de asma e utilizam inaladores têm até 40% mais probabilidade de desenvolver tumores do que os homens sem a doença.

A simples existência de asma aumenta a probabilidade de um homem desenvolver câncer de próstata em 26%."

Conclusão científica: "Os acadêmicos australianos que realizaram o estudo disseram que os resultados mostram a necessidade de mais pesquisas sobre a relação entre asma, inaladores e câncer de próstata."

Donde se depreende uma nova versão do método científico:

1- Formule uma hipótese.

2 - Faça experimentos que confirmem sua hipótese (nunca que a desmintam).

3 - Peça mais verbas para financiar sua pesquisa. Volte ao passo 2.

4 - Desenvolva uma teoria para explicar os fenômenos observados. A teoria pode também explicar como você conseguiu chegar ao passo 4.

quinta-feira, agosto 05, 2010

Preocupante

Respondendo ao comentário do Milouse no post abaixo: o preocupante mesmo é que hoje eu tenho a mesma idade do Marcos quando ele saiu do banco para entrar na história.

Lembranças aos que estiveram ao meu lado neste quarto de século e etc. etc.