quarta-feira, setembro 02, 2009

Quando eu não fazia muita coisa da vida além de jogar videogame, um dos meus hobbys era jogar coisas como SimCity e Champioship Manager, ou seja, games em que boa parte da ação era feita pelo computador sozinho enquanto eu (para usar as palavras do meu pai) "esperava o tempo passar". Essa descrição pode levar a crer que esses jogos eram chatos mas quem já perdeu dias e meses com eles sabe que não é bem assim.

O tempo passou (e eu sofri calado? ;) ) e as coisas mudaram. Tornei-me um homem responsável. Digo, tornei-me responsável, afinal homem eu sou desde os primórdios. Digo, hoje em dia as pessoas delegam coisas para mim como se eu fosse responsável. Suponhamos que seja verdade.

O curioso é que vez por outra essa responsabilidade consiste em ter que escrever umas linhas de código no computador e...esperar o tempo passar enquanto o computador decide se eu fiz tudo certo ou não. Às vezes tudo que resta é torcer, assim como já torci para um monstro não atacar minha cidade ou para conseguir levar o Santo André ao título da Libertadores.

Hoje eu torço para que o computador termine uma conta. Alguém poderia argumentar, com certa razão, que torcer para um computador fazer determinada atividade é das tarefas mais inglórias e idiotas da história.

Tenho uma teoria (que deixaria ruborizado qualquer físico meia boca ou engenheiro da computação mais ou menos) para justificar isso: a mecânica quântica não diz que os elétrons fazem coisas estranhas, não determinísticas, e que apenas ao medir alguma coisa é que eles se "decidem" sobre o estado em que vão aparecer? Gosto de acreditar que a minha torcida influencia secretamente os elétrons e portanto o resultado da conta depende das minhas vibrações mentais.

Um cético poderia dizer que isso não faz sentido porque um programa que dá um resultado uma vez continuará dando esse mesmo resultado se executado na seqüência (desde que ele não contenha partes randômicas ou pseudo-randômicas). Ainda assim, eu teria 2 contra-argumentos:

1 - o primeiro resultado "fixa" o comportamento dos elétrons (por algum mecanismo pouco compreendido), de maneira que a experiência seja determinística apenas depois da primeira execução.

2 - Todo mundo que já mexeu com computador sabe que fazer EXATAMENTE a mesma coisa 2 vezes seguidas pode dar resultados diferentes.

É óbvio que (1) é um erro de interpretação da minha parte ou apenas uma piada sem graça, ao passo que (2) é uma verdade profunda, mas tão profunda, que justifica até a bizarra ação de mandar rodar o mesmo programa várias vezes "porque quem sabe se agora não dá certo?". É o análogo computacional de torcer no video-tape. Parece estúpido, é estúpido, mas apenas as criaturas que nunca fizeram isso (ou que nunca escreveram cartas de amor, ça revient presque au même) é que são estúpidas.

3 comentários:

milouse disse...

"portanto o resultado da conta depende das minhas vibrações mentais."

vibracoes mentais, o que seriam?

quer dizer que vc fica chacoalhando a cabeça ao torcer por alguma coisa?

Rapha disse...

Não, se ele ficasse chacoalhando a cabeça ele simplemente geraria efeito doppler com as vibrações mentais...

Tiago disse...

Se ele chacoalhar na frequência correta, pode dar uma interferência construtiva e ele virar um gênio...

ou pode dar uma interferência destrutiva e o cérebro dele ficar comparável ao de uma ameba.