segunda-feira, julho 24, 2006

All your life, Charlie Brown...

Assim que cheguei no canteiro de obras da caldeira, percebi que aquele era o terceiro pior lugar do mundo que poderiam me colocar para trabalhar - tocador de tuba em parada militar e assistente de dentista de cachorro ainda levam vantagem. Como essa vida é um vale de lágrimas, tratei de enfrentar o caos, o perigo, o calor, a fumaça, o pó, os soldadores malucos e os demais portugueses do local.

Com as férias iminentes de parte dos lusitanos, tive de passar muito além da Taprobana para buscar algo a fazer lá pelos lados do Além-Caldeira 8. O Paulo Silvino e o Pacheco (personagem novo; descrição breve, típico português com bigode "andorinha", com cara de dono de padaria), nas palavras do soldador, "estão a passar os dias a ver quem faz menos". Fato, os caras enrolam o quanto podem. Melhor para mim, ajudar folgado é simples, nesse caso.

Tentando fingir que fazia alguma coisa, fiquei procurando uma pá para recolher o lixo varrido. Como já disse antes, o lugar é meio inóspito, sujo, bagunçado, apertado...Seria uma variante para a agulha no palheiro, a pá na caldeira. Gastei um bom tempo tentando lembrar também como se diz pá em francês. Não consegui uma coisa nem outra, apesar de circular por cada cantinho da obra. Demos um outro jeito de tirar o entulho e voltei para meu ócio.

De repente, enfio a mão no bolso e percebo que a chave do meu cadeado tinha sumido. Se achar a pá era impossível, melhor nem falar da chave. Fui falar com o segurança ("não sei onde ela caiu, andei por toda a fábrica procurando uma...um...bom, um negócio"), anunciaram no sistema de som, mas como metade da fábrica fala português, metade fala italiano e o terço restante também não entende francês direito, eu não tinha esperanças.

Antes de sair para jogar o lixo no caminhão de entulho (pois é, virei lixeiro!), ouvi o sistema de som dizer algo como "Santorô". Eles repetiram, prestei mais atenção, era só a ordem para alguém passar no "bureau" (escritório). Quando eu tinha certeza que meu dia não podia ficar pior, veio o chave, digo, o chefe, me mandar para o curso obrigatório de segurança...

Eu e dois operários de outro setor, recém chegados, vimos um vídeo estúpido e depois tivemos que responder questões do nivel CFC. Comecei a pensar besteira durante as perguntas da provinha, inventando novas questões, "O que fazer se você machucar o dedo? Lavar sozinho, chamar um colega, passar na enfermaria ou cortar fora com a rebarbeira pequena?", quase errei umas por falta de atenção. Fui aprovado, com honras, e agora vou receber um selo de segurança no meu capecete.

Não percam, amanhã, em mais um capítulo de "Um operário muito estranho", a revelação de Pacheco e o sonho do soldador...

Um comentário:

Anônimo disse...

O sonho do soldador foi demais... mas lembrar da Taprobana é de fato louvável!!! E viva Dom Sebastião!!! Vivaaaaaaaa..... :-)