domingo, julho 02, 2006

"A gente perdeu da França. E a França é ruim"

Ouvi essa frase de um sábio torcedor brasileiro desconhecido, no meio da massa amarela e derrotada em Frankfurt. Mesmo se isso resume bem a situação, é apenas uma bela piada, é preciso dar maiores detalhes.

A cidade de Frankfurt tem alguns telões na região da margem do Reno. O mais bonito deles, que fica literalmente sobre as aguas, estava com a arquibancada já completamente ocupada para Portugal e Inglaterra. O jeito foi ir para um outro, mais discreto, onde todos ficavam realmente em pé. No caminho até lá, ouvi diversas referências à minha camiseta palestrina, desde os triviais "Bela camisa" até um mais empolgado que começou a declamar o hino com emoção. Um calor de primavera brasileira, um sol inclemente para quem se acostumou com meses de inverno europeu, um ataque português ineficiente que obrigava a partida a ir para os pênaltis, tudo isso dava um certo clima de "Ah, esperava mais da copa". Mas é claro que o grande evento do dia ainda estava para chegar...

Aos poucos, depois dos milagres do grande Ricardo (vide post sobre o cidadão em junho de 2004), a festa começava a se transformar em Bleu, Blanc, Rouge, verde e amarelo. A torcida brasileira, pelo simples fato de ter nascido nesse país maravilhoso, tratou de provocar os adversários desde o início. Em meio a "Au revoir, les bleus" e "Ei, Zizou, vai tomar no cu", era claro que aquilo não poderia terminar muito bem...

Depois dos hinos e dos primeiros bons 3 minutos da seleção, a torcida começou a murchar. Admito que gritar em frente a um telão é ainda mais estúpido que fazê-lo no estádio, mas a sensação de desastre eminente crescia enquanto a nossa zaga tocava bola lentamente e os franceses começavam a gostar do jogo. Ocupando assim o relativo vazio deixado pela massa brasileira, eles se empolgavam cada vez mais com seus gritos de guerra.

É curioso que eles cantam o próprio hino durante a partida, como os times brasileiros de futebol fazem. Digo que é curioso porque ao invés de ser uma coleção de frases rebuscadas, palavras que já caíram em desusos e inversôes desnecessárias, o hino deles é simplesmente um canto de guerra. Ouvir "Vocês não estão escutando esses ferozes soldados? Eles vêm até os seus braços para degolar seus filhos e sua mulher" durante uma partida de futebol dá um certo medo.
Cada escanteio era uma tortura, Zidane no primeiro pau e o mundo inteiro acreditando num replay de 98. Curiosamente o gol deles saiu quando o maior gênio do futebol francês resolveu efeturar o lançamento em nossa área e encontrou um Henry tão livre, mas tão livre que deu até vergonha de ser brasileiro. O adversário joga com UM atacante e se tem a ousadia de deixá-lo livre na entrada da área.

A partir daí o clima de vingança foi substituido por uma frustração e incredubilidade, não era possível perder para eles, de novo. PARA ELES! E DE NOVO!

Boa parte dos brasileiros (este que vos escreve incluso) pulou junto com o Adriano, literalmente, naquele último cruzamento. Mas quem ganha com bola cruzada na área são eles, já deveríamos saber disso...Só restava voltar pra estação de trem, onde ouvi o veredicto da noite: "Esse aí tá na merda, além de brasileiro é palmeirense".

É difícil descrever a festa francesa, povo blasé por natureza mas em estado de glória depois da vitória. Eles, como bons arrogantes, acreditam piamente que jogam mais bola que nós. Ontem isso foi verdade, e se eu pretendia ver a aposentadoria do Zidane saio algo feliz por ter acompanhado uma exibição memorável deste monstro...Evidentemente, vou ter que agüentar pelos próximos meses que a França é o melhor time do mundo e que nós, brasileiros idiotas, nunca aprenderemos a marcar o ataque adversário numa jogada de bola parada.

Só nos resta torcer para o Felipão...

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