sexta-feira, julho 07, 2006

Não chore por mim, Alemanha (05/07)

Dando sequência ao plano maluco de percorrer a Alemanha durante a Copa, parti para Dortmund. Antes da história em si, uma pequena pergunta, caro leitor: Alemanha e Itália, semi-final de Copa, o que isso te diz? Ou você respondeu" nada" ou "prorrogação inacreditável". Eu ficaria com a segunda, claro, não por ontem, mas por 70 (Beckenbauer com ombro deslocado, 4 a 3 Itália, talvez o melhor jogo da história das Copas).

Pois bem, os alemçaes se acreditavam invencíveis, e eu acreditava neles. Torcia, no entanto, pela Azzurra, por questões de sangue e por preferência e por uma Berlim mais tranqüila no sábado. Chego na praça principal de Dortmund 3 horas e meia antes do jogo. Lugar lotado, escolho (parênteses curioso: texto escrito num trem alemão à uma e meia da madrugada, ouvindo "caiu na rede é peixe" de um grupo de corinthianos no fundo do vagão) um pedacinho de chão próximo da sombra. Depois de algum tempo, ela finalmente chega em mim, assim como milhões de alemães.

Em termos de calor, densidade de pessoas, quantidade de cerveja bebida, músicas que eu me recuso a cantar por princípios ideológicos e camisetas pretas e brancas, a única comparação possível com o dia de hoje seria uma apuração de notas na Gaviões.

Desisti do meu bom lugar para conseguir algum espaço para sentar antes do jogo. Disfarçar que eu estava torcendo para a Itália foi fácil, o jogo não foi dos mais emocionantes. Até que, quando eu pensava que a relação com o clássico de 70 seriam as duas bolas na trave em dois minutos ("me dê a mão, me abraça, viaja comigo pro céu..." realmente a comparação era boa), coisa que eu nunca tinha visto na vida, mas de repente o Grosso chuta e é gol!

O leitor que não estava no Maracanã em 50 não deve ter muita noção do que é ver um país anfitrião ser eliminado assim. Silêncio quase completo, alguns gritos de "A Alemanha vai fazer um gol", "Deutschland, Deutschland" (no mesmo ritmo de "Olê, Porco"). E quando eu tinha certeza de que não seria uma prorrogação tão especial assim o Del Piero dá aquele belo toque. Gol, gol!

Gol não gritado é uma coisa muito estranha...

Saí forçando uma cara de desolado. Ao invés de apanhar, descobri, porém, como começou a Segunda Guerra: nunca menospreze alemães derrotados...Uns gritos de "merda italiana" (ou "italianos de merda", nunca fui bom com declinações) começaram a tomar corpo, depois uns "Super Deutschland" chegaram também.

Deu medo da estação central lotadíssima de alemães e seus gritos nacionalistas de derrota. Neste momento, dentro do trem, eles estão mais "República de Weimar", quietinhos...Mas um dia eles ainda acordam e conquistam a Europa. Passarão certamente pela França mas talvez fiquem presos nas defesas italianas...

"Pero meten goles y no los toman", acabou de dizer um hispânico aqui atrás. Belo time italiano, de fato, não me lembro de nenhuma outra equipe deles tão boa assim...Cravo, no entanto, meu palpite no Scolari: Nossa Senhora do Caravaggio já tirou Brasil e Alemanha do caminho, dos azuis que sobraram o Ricardo cuida.

(Nota do autor:achei que seria desonesto mudar o final de texto depois do resultado dos lusitanos...Não foi dessa vez que Dom Sebastião voltou, continuemos esperando)

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