quarta-feira, julho 19, 2006

Ó Bruno

Em termos de compreensão auditiva, acho que depois do português vem o francês, o inglês, o espanhol e aí, finalmente, o português de Portugal. E pá, mesmo assim estou a trabalhar com os lusos.

No primeiro dia não fiz nada, hoje também não tinha grande coisa a meu alcance. Não sei soldar, não sei polir, não sei cortar, não sei nem o nome das peças (aliás, preciso de um dicionário técnico Português de Portugal/ Brasileiro. Até porca tem outro nome para eles!). Ajudo a carregar umas coisas, aperto uns parafusos, converso com a "malta"...

Minha primeira impressão é que eles eram uma massa explorada e sofrida. Estava até pensando em fazer uma anáilise aprofundada dos diferentes estratos sociais, ou seja, os lusos, os italianos, os árabes e os negros (não vi nenhum francês por lá...). 11 horas de jornada de trabalho diária, calor quase insuportável, poeira..Um deles, que parece o Paulo Silvino, tinha dito que trabalhar ali só valia pelo dinheiro, ganhava-se em 2 dias e meio o que se ganha em um mês em Portugal. Achei que fosse exageiro.

Hoje eu passei boa parte do tempo ao lado de um soldador, Veloso (ainda não comentei com ele a respeito do goleiro, vai chegar o momento...). Parece ser o gajo com mais noção ali, mas é meio brigado com quase todos os outros. Quando eu cheguei ele bateu continência para mim, achei que fosse desrespeito mas era só piada. Bom, o cidadão me disse que eles ganham 19 euros por hora. Façam as contas, caros leitores, incluindo ainda o fato de que eles trabalham 6 horas aos sábados...(4750 em julho, para os preguiçosos ).

Nessas horas dói vir do Terceiro Mundo. Tinha dito que o Nordeste era belíssimo mas um pouco caro, esse maluco, que lembra o Zacarias, perguntou se com uns 2000€ dava pra passar umas boas férias...

Vou parar de reclamar do fato de que um pedreiro ganha mais que 99% da população brasileira...Melhor concentrar meus esforços em entender o que eles estão falando e ganhar umas outras histórias inacreditáveis para contar. Me sinto numa mistura de programa humorístico (por razões evidentes), com filme de ficção daqueles que se passam dentro de fábricas, tipo Exterminador do Futuro e com um quê de Eça de Queirós. Por enquanto, sigo sendo chamado de "ó Bruno". É uma pena que não tenha nenhum Esteves...

Um comentário:

Anônimo disse...

Vou comentar o mesmo que coloquei no seu YOGURT: não perca a chance (única) de pedir pra um patrício ler pra vc um trecho (qualquer um) de um poema do Pessoa. No mais, força na peruca e bom divertimento!!!! ;-)