quarta-feira, outubro 25, 2006

Inutilidade

Não existe nada mais inútil que torcer num jogo de futebol. Admita, caro leitor fanático, como diabos o seu sofrimento e desespero pode de algum modo alterar os rumos do destino?

Eu pensei em dizer que torcer era quase tão inútil como rezar, mas por respeito às minorias religiosas achei melhor deixar a frase assim, no limbo entre o dito e o não dito.

Existe, é claro, um dégradé de inutilidade (observação inutil: eu acho que os franceses preferem dizer "continuum" do que "dégradé" nesse caso). Por exemplo, torcer no campo ainda tem lá a sua função, o seu grito e a sua presença podem, com sorte, dar uma dose extra de motivação para algum jogador.

Torcer pela televisão já começa a se aproximar da barreira perigosa da inutilidade total. Alguém suficientemente crente ainda pode dizer que ver o lance ao vivo ao menos reconforta. Que assim seja.

Existe ainda o infeliz que acompanha pelo rádio e fica à mercê de narradores inescrupulosos ("a bola passou tirando tinta da trave" para aquele chute que quase sai na lateral), além de exigir concentração, criatividade e imaginação acima da média.

No limite da vida inteligente está o torcedor de video-tape. Acredite, leitor cético, existem pessoas que torcem ao ver os melhores momentos...Claro, a pessoa não pode saber de antemão o resultado do jogo, isso jogaria toda a experiência no lixo (vide o maldito gato de Schrödinger).

Creio que, com os avanços da tecnologia, ninguém mais se encontra nas condições do último paragrafo. Todo mundo sempre sabe os resultados em tempo real, estão todos conectados, blá blá blá. Eu mesmo me lembre de ter feito isso apenas umas poucas vezes na minha infância, ainda mais que hoje em dia a Globo monopoliza o futebol. (não mais, acabei de me lembrar que a Record agora também passa. Bom, considerem esse texto como o de um homem congelado no tempo). Enfim, não existem mais compactos de Corinthians e Juventus no Pacaembu começando assim que o jogo termina, na Band. Tristes tempos.

Em todo caso, esta noite acontecerá o último jogo importante do ano. Depois de Itália e França, o primeiro jogo que eu digo "esse eu não posso perder nem morto". Palmeiras e Corinthians numa luta fratricida para evitar o rebaixamento. E eu do lado de cá do Atlântico, com uma conexão via internet com a Jovem Pan. Que chega, por motivos fisicamente básicos, com uma certa defasagem...

Que Ele tenha piedade de nós.

2 comentários:

Anônimo disse...

Mind Over Matter... Mind Over Matter...

Ruppel disse...

ontem a record rompeu com a globo para 2007
o monopólio está de volta