domingo, outubro 01, 2006

Um tanto quanto morbido

Deve estar um inferno no Brasil a cobertura do acidente com o avião do GOL. O que me chamou a atenção foi a breve explicação sobre alguns passageiros que a Folha colocou em seu site (http://eleicoes.uol.com.br/2006/campanha/ultnot/2006/09/30/ult3750u1126.jhtm).

Existem sempre aqueles que pegaram o avião no último minuto, que insistiram para embarcar naquele vôo, que mudaram a data da viagem, bem como aqueles que perderam o embarque por muito pouco ou que simplesmente decidiram que aquela sexta não parecia ser um bom dia para voar.

Bref, as descrições desse site devem ter sido fornecidas pela família, ficando claro como cada uma das pessoas era vista pelos seus mais próximos. Há os que informaram sucintamente a profissão da pessoa, idade e se deixou família ou não, basicamente o que se espera de um obituário simples. Há, no entanto, os super-homens.

Pensemos um segundo no caso do pobre Ricardo Tarifa. "engenheiro agrônomo, Ricardo Tarifa é especialista em Floresta do Banco Mundial. Tarifa viaja freqüentemente para Manaus para acompanhar um projeto-piloto de proteção de florestas tropicais. Mestre em Floresta e Meio Ambiente pela universidade de Yale (EUA), ele trabalhou durante cinco ano no Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia, período em que morou na Amazônia e realizou pesquisas. Não tem filhos."

É, seu Tarifa, o que o seu mestrado em Yale pode fazer pelo senhor enquanto o avião despencava? E para que o prazer de divulgar essa bela biografia, de que isso serve quando nem reconhecer as partes do corpo do falecido será possivel?

A culpa não é do Tarifa nem da familia dele, é de todos nos que achamos que viver bem é colecionar títulos e forçar biógrafos do futuro a gastar algumas boas linhas citando-os. Isso pelo menos é a opinião de Bruno Faccini Santoro, 21 anos, graduando em Engenharia Quimica pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo e Ingénieur de l'Ecole Polytechnique.

Um comentário:

Anônimo disse...

Belo texto... ótimos pensamentos.... e se isso não comover alguém, o que comoverá?! Virar gente grande é foda demais!! E dói....