sábado, junho 17, 2006

Do tempo que a França marcava gols em copa do mundo...

O texto prometido ha' um tempo atras. Valeu, Ju, irmã/escrava so' tem uma, hehe.

A favor e contra

Faz parte do folclore dos jornalistas, na sua eterna luta com os prazos de fechamento, a matéria feita antes, que vale em qualquer eventualidade. Considerações sobre o nada, à prova de qualquer desmentido dos fatos. Outro recurso é fazer duas matérias, uma prevendo uma coisa e outra prevendo o seu oposto. Este é perigoso, pois há sempre o risco de haver confusão e sair a matérias errada. No caso do futebol, a matéria dupla - por que ganhamos e por que perdemos - requer uma dose maior de sangue-frio, para não dizer cinismo, jornalístico. É conhecida a história daquele editor que se lembrou em cima da hora que no dia seguinte era Páscoa e o jornal precisava se referir à data. Entrou na redação e pediu a um repórter:

- Escreve aí cinco linhas sobre o martírio de Jesus Cristo.

E o repórter:

- A favor ou contra?

Escrever a favor ou contra Zagalo e a seleção de acordo com o resultado da final já seria uma injustiça, escrever a favor e contra antes e publicar a tese justificada pelo resultado seria uma calhordice. Afinal, deve-se ter convicções firmes, independentes da sua conveniência, inclusive sobre o martírio de Jeses Cristo. Nem a vitória redimiria completamente Zagalo das suas teimosias nem a derrota o condena completamente. Zagalo caiu abraçado às suas convicções. Não deixa de haver uma certa grandeza nisso.

Poderia, isto sim, ter-se previsto dois scénarios, como gostam de dizer os franceses, para a final, cada um com um personagem diferente, Ronaldo e Zidane. Por que ganhamos? Porque Ronaldo finalmente jogou tudo o que sabe - ele que jogando metade do que pode já era um dos jogadores mais importantes do Brasil - e foi o nome do jogo da Copa. Por que perdemos? Porque Zidane, e não Ronaldo, foi o nome do jogo e finalmente o herói do dia e do título. A grande noite de Ronaldo e suas consequências eram mais fáceis de prever. Do lado da França o herói podia ser qualquer um. Mas como o scénario da Copa acabou sendo perfeito para os franceses, nada mais adequado e dramaticamente certo do que o seu jogador favorito ser o jogador decisivo.

Preciso confessar que escrevi parte deste texto, até o Jesus Cristo, antes de começar o jogo. É um exemplo do uso do nada para ganhar tempo. Poderia ter escrito antes sobre o triunfo de Ronaldo ou o seu fracasso e mandado o texto que encaixasse com o resultado. O que eu nunca poderia escrever era qualquer coisa que entecipasse três a zero para a França. Três a zero, nem no scénario do francês mais delirante.

(Luis Fernando Verissimo)

Um comentário:

Anônimo disse...

De nada!